terça-feira, dezembro 28, 2010

06:48, e é tudo teu.‏

Conto meus passos até a outra estante, e eles deslizam como se ainda tivessem rodas.

Escolhi para essa manhã, essa em que o quarto continua vazio de você e de mim, um livro cinza. O sol tenta abrir as cortinas, e mesmo ele escorrendo luz entre as frestas deixando tudo meio sépia e com um cheiro de promessa matutina, não abro mão da capa cinza.

Deito em cima da minha saudade, e flutuo pelas letras escutando uma música que você nunca toca, dentro da cabeça, uma cena que nunca existiu.

Perco meu tempo, e logo procuro meus segundos embaixo dos móveis.

Alguém bate forte na porta, sinto que machuca as mãos. Enquanto isso sinto a textura da chave e a certeza de que quero ficar sozinha não me impede da gentileza de destrancar, ando cansada de ser assim.

Alguém entra e me pergunta o que faço entre tantos papéis, diz que a febre chegou, que me atrasei para o próximo diagnóstico... Sabe, eu queria explicar, mas essa é uma daquelas verdades que só faz sentido a quem diz...

Se eu contasse... É, ouviria gritos de que existe um relógio em meu pulso, outro na parede, outro no computador, outro na tv, outro no celular... E eu continuaria nesse quarto vazio de mim e de você, procurando pelo meu tempo para guardar um pouco mais de mim para ti, quando existir um tempo cheio de nós.

Talvez a gente leia cores vivas e sinta o vento lá de fora... Talvez, por enquanto estou dormindo sem descansar, e acordando com esse medo de nunca mais te ter aqui, tendo que levar meu tempo comigo.

Então vem logo, minhas gavetas estão quase cheias, e é tudo teu.

quinta-feira, dezembro 16, 2010

Amargo.

Minha boca não mastiga mais os vidros que você solta nesses beijos. Agora o grito que ecoa na garganta é de uma solidão só tua. Não tenho mais tempo para esse tormento de desenhar minha paciência no ar com os dedos, em cada cena quando você se atrasa, quando você insiste em permanecer nessa coisa de achar que ninguém se perde do alcance do teu olho.

Então digo que você já perdeu a cor, o cheiro e o dom de me fazer ficar, todo dia, esperando mais de ti.

Toma teus planos e programas, toma teus casos e descasos, toma tuas falas ensaiadas e silêncios propositais, e engolirás tudo como água limpa. Não te corta a garganta porque aqui os únicos cacos que existiam, eram decorrentes da tua presença roubando minhas horas.

Sei, que lembrando que você já teve algo tão doce, tudo terá gosto amargo no final. Mas te contenta, devolve minhas lentes, coloca as tuas e segue meio amarga, meio quebrada, meio amada.

domingo, dezembro 05, 2010

Das oito às oito.

Entregue a terceira pessoa, a menina continua falando de si usando esses exemplos bárbaros de heróis de guerra. Às vezes sente-se mais sozinha, e é quando o som dos primeiros carros da manhã invadem a janela do oitavo andar. Suas razões para levantar de nada adiantam por esses minutos de solidão amarrarem as suas pernas entre os cobertores.
Pensa em não ser mais tão vulnerável e jogar-se dentro de si, como quem não tem medo de seus sonhos. Mas, inerte, a dúvida sobre o porquê dessa construção que faz de sua solidão, dói tanto... Tenta não pensar mais em soluções. Sabe que para levantar precisa estar certa que não vai buscar nada além das coisas que pode ter.
Por isso ela deixa de te ligar, deixa de te mostrar o que invadiu seu mundo e que não dá mais espaço para conversas otimistas. Amarra as próprias mãos num livro e seu pensamento em quaisquer palavras que não sejam as suas, porque tudo nela acaba te procurando.
A cada nova versão de acontecimentos que se repetem, mais essa vontade de viver só com o que se tem a mão parece ouro.
Quando levanta, ela repete para o vento o quanto ele a traiu, já que o amou tanto que todo susurro agora soa falso por sentir o vento que traz, esse vento que não avisou que poderia levar também.
Anda até a sala e se indaga sobre que tipo de pessoa se tornou a partir do momento em que algumas coisas mudaram de forma, ela sabe que não é uma pessoa ruim, e que o amor deveria ser uma coisa boa.
Acaba não tendo mais problemas para se locomover por essa manhã, posto que se purificou com seus sonhos pequenos, com suas vontades que não invadem ninguém, conformada com a hora que passa e não volta. Mas antes de dormir, grita que nunca teve um problema real dentro de si, que só estava tentando ser a denúncia do que estavam fazendo com ela, enquanto ninguém ouvia.
E tu, que é para quem ela não liga mais, como podes exigir a fala se não sabes, primeiramente, o que significa o silêncio?

sábado, novembro 20, 2010

Falência de múltiplos ideais.

Garoto, que cores são essas que agora vejo por todo o pano que te cobre? Antes percebia nos teus olhos, que agora são só mais um par de olhos negros e você deixa estar.
Não consegues mais ouvir as músicas que te faziam ficar de pé porque não traduzem mais versos em atitude nessa tua vida que não tem espaço para muito mais além de você mesmo.
Deixasse tua cara vazia de sinais de fogo, teu mundo sem um rasgo na calça jeans. As tuas grandes vontades por feitos pequenos que nos faziam correr, mudaram.E me assustei te vendo sonhar alto demais, tão sozinho, enquanto passas o dia todo esperando que algo que sabes, não vai acontecer, aconteça.
O que aplaudes agora? Vejo-te com as mãos inquietas por monitorar cada toque... Garoto, segura firme esse espelho, vê o que sobrou daquela segurança na fala, e convicto de seus passos me diz o que de ti, também tenho que deixar estar.
Sinto falta do cheiro que nesse verão não tem mais. 

quarta-feira, novembro 17, 2010

Troca.

Esconde entre a pele o tom dessa tua roupa de sempre, e veste azul. Troca o gosto da tua saliva e respira bem fundo toda essa vontade de voltar atrás. Engole antigos conceitos com o ar, e faz sair de ti o inimaginável, muda de voz.
Encosta tua cabeça entre o mundo e meu ombro, sente meu sorriso acontecendo. Troca a cor dos teus olhos quando falar de amor comigo, segura forte teu peito contra o meu sem me tocar, faz arder uma saudade nova.
E te consola junto comigo meu bem, troca tudo como eu, que nas horas vagas a pessoa do amor que sabemos ter guardado em nós, vai lembrar de alguém que não existe mais, só assim seremos 2.

domingo, outubro 24, 2010

A três passos...

Estou a três pasos de me jogar daquela janela, ou de entrar naquele ônibus. A três passos de beijar aquela boca, ou abrir aquele livro. A três passos de vestir aquela roupa, ou tirar aquela outra.
Só me faltam três pasos para chegar até o telefone, e também são três até a ponte de onde eu jogaria de vez esse celular. Mais três passos e eu faço minhas malas, ou faço essa carta com três passos a ti chegar.
Estou a três passos daquele violão que emudeceu, a três passos também de te encarar. Mais três passos e eu jogo fora tudo que é meu, ou mais três passos e pego tudo na mão para te fazer lembrar.
Faltam três passos para achar outro caminho, e talvez esbarrar no teu que também precisa de três para me encontrar.

domingo, outubro 10, 2010

E não faz tanto tempo assim.

Sinto algo saindo aos poucos pelas minhas mãos conforme os dias vão acontecendo. Sei que elas estão em algum estranho processo de apodrecimento antes do resto do corpo, e quando mais uma pessoa nota, o corte volta a doer. Porém sinto que ainda sabes o que se passa nesse silêncio quando te toco daqui. Não faz tanto tempo, pensei em te dizer uma verdade que não pode mais sair da minha boca. Sempre chegamos tão perto, e foi perto demais para se olhar nos olhos. Ofusca o teu sorriso essa proximidade toda, faz a gente olhar além de nós para enxergar algo nítido. Minhas palavras te cegaram, foram rapidamente atiradas contra ti sendo só o que são, palavras minhas. E você, parou de sentir esses toques de silêncio por um periodo que foi o bastante para sentir medo. Não faz tanto tempo pensei em gritar as cores de quem sou, para remontar em mim, a cena do teu rosto me aceitando tão certo disso... Estive dandos passos contrários aos seus para virar e te olhar de frente, descobrir como são teus gestos antes que eles encontrem os meus. Mas amor, isso necessita de um tempo que tuas vontades não permitem, de uma confiança que tuas defesas não deixam acontecer, de um sorriso novo que teu orgulho não me mostra mais. Não faz tanto tempo eu quis esquecer que, minhas costas ardem e suam nossos planos, quando minhas mãos vão escrevendo algo para justificar toda essa dor.

terça-feira, setembro 28, 2010

Respira.

Estive todos esses tempo esperando que você acontecesse. Atirando ao acaso partes minhas que você juntou durante meses. Estive esperando que tu me mostrasses além do que, de propósito, escondia... Agora existe uma palavra que não pode ser dita. Há um desvio de olhar necessário. Nesse quarto, os lugares não são mais meus. E o sangue que você arrancou corre pelo chão, olhar para ele é caminhar dentro de ti em dor.

Agradeço, por me fazer rasgar alguns calendários e por voltar sempre... Me dando certezas de cara nova. Por mais que sejam de um final que dói.

domingo, setembro 12, 2010

O que sobrou dos que partiram: nós.

Falam parecido, e também é parecido o jeito que colocam as mãos sobre a mesa, tanto que se muito perto, por um segundo o cérebro não distingue o lugar correto para mandar a ordem de movimento, então os dois acabam tocando seus próprios rostos.

Mesmo assim ele reclama por saber que serão sempre os mesmos. E mesmo assim toda a escuridão do mundo dói nela.

terça-feira, setembro 07, 2010

Hoje eu tenho muito a dizer...

...e é exatamente por isso que calo-me. Mastigo as palavras enquanto tu desembaraças os nós que criei para essa finalidade. Uma a uma, elas descem pela garganta como se eu estivesse nutrindo-me de toda essa loucura.
Diante de ti, há um esforço tremendo para ficar sóbria dessa raiva que anda comigo cada vez que sem ti, penso que só consigo conter-me quando te ouço.
Não mais direi o que queria dizer-te antes que indo embora eu fale, meio sem jeito, que tu já sabias.

sábado, agosto 28, 2010

Então tu viesses...

Desenrola o cabelo do pescoço e encara o frio desse vento que te faz sentir o meu perfume. Escuta o som do mundo, e o que ele fez para estares aqui tornar-se-á escrita nos muros da cidade, dentro do caderno na tua letra, entre o que quero que saibas sobre mim...

Relaxa, ninguém pode falar de si sem falar sobre outro alguém, pesadelos são mais reais quando estamos sozinhos, e a gente já se cruzou sentindo a mesma coisa... Descanso o corpo como se ele estivesse no ar segundos antes do suicidio, poesia concreta.

Faço-te uma casa, abro-me para um abraço, deixo estar o que me é mais importante, e permaneço aqui.

Enquanto discursas teu gosto, percebo o quão finita é a linha entre a tua boca e o que dizes. Chego mais perto para esquecer a fala.

Estamos esperando você ir embora, estamos encontrando as palavras certas para deixar isso claro. Estamos certas de algo que não é dito, quero dizer.

O que me fez ficar, mesmo com tanto sono, é a ideia de que logo nos remontaremos sem essa parte que surge quando você fala e eu penso. Guardo aqui nesse texto, como uma caixa de remédios no armário.

Por hora viro-te pra ver o que vejo, e logo nos desencontramos porque não consigo tirar os olhos do teu rosto. Enquanto tu achas que estás sozinha no que pensas, estou me tornando parte do teu corpo, para ver através dos teus olhos o que eu não conseguiria ver com os meus, quero dizer.

sexta-feira, agosto 13, 2010

Eles precisam fazer barulho agora...

Agora que quero companhia silenciosa de pensamentos voadores, a casa inteira grita e sinto as janelas tremerem. Tudo tão intacto, cheio de alguma coisa desconfortável que penetra no vidro.
Não posso deixar de ver, mesmo fechando os olhos com força como quando criança. Alguns costumes como esse voltam a tona nessas horas, são os mais naturais, os que mais se parecem comigo.
Fechando os olhos lembro de quando dizia o quanto a amava e sentia o beijo preso na garganta, noto que ele ainda está aqui, e às vezes engasgo tossindo vontades pelo meu caminho.
Comprei o cheiro que me lembra os poucos beijos consumados. Vou espalhar pelo quarto... Assim como pele postiça flutuará no ar, até penetrar no que me é desconfortável. E talvez fechar os olhos agora, faça o mundo silenciar-se.
Então boa noite, amor. Saiba que te vejo como ninguém ao teu lado te vê, entre minhas pálpebras bem fechadas tenho sua expressão mais bonita, e esse sorriso é visível só para mim, nem tu sabes dele.

domingo, agosto 01, 2010

Preciso reconciliar-me com meu corpo.

Deixo-me em casa, e meu corpo sai escoltado pelos seus novos movimentos rápidos. A pele tentando acompanhar, perde-se nesse misto de convicção e ingenuidade, e acaba afogando-se em seu próprio suor. Tento não me escutar nessas conversas mecânicas de quintas intenções, porque guardo o apreço que tenho pela voz em algum lugar entre os órgãos vitais.
Deixo-me em casa enquanto meu corpo voa mutilando-se por escolher vias fáceis para lugar onde a dor acontece já na escolha da partida.
Tenho observado-me ser eu, e não consegui me acompanhar.
Não posso mais conviver com essa angústia de querer mais e mais, sobrando tão pouco pela manhã.
É julho e já faz calor. Enquanto todo mundo congela, sinto tanto calor... E a pele continua descolorindo-se a cada toque de mãos que vão apagando cor e textura.
Por isso pensei em voltar, para resgatar o que você desperta em mim, esse medo de morrer que justifica momentos em que o tempo pára e a gente não consegue respirar. Sinto falta de temer por ti e por mim. De ser uma coisa só.
Pensei em chegar cega, aguardando o toque do teu cheiro, e sentir tuas unhas na minha nuca em forma de arrepio. Entretanto sei que são exatamente esses devaneios que me mantém em casa, pedindo-me para fechar a porta ao sair. Digo a mim mesma para voltar fisicamente intacta, que minha parte doente ficará nesse silêncio entre minhas coisas que aos pedaços flutuam sobre a cama.

terça-feira, julho 06, 2010

Por fim, o começo.

Percebo o novo que caminha ao meu redor mas não me encosta.
Você vê amor... E eu tenho uma série de doloridos déjà vus.
Du bleibst, wo du bist Gta.

sexta-feira, julho 02, 2010

Do que vês, o que reparas?

Fiquei com medo de não voltar a escrever, posto que o texto anterior fosse como o último suspiro consciente antes de dormir uma década. Mas a cabeça voltou à rotina diária de letras sobrevoando muros, saltando de janelas, fazendo cócegas entre os vãos da minha roupa... E respirando pontuação, piscando haicais, sorrindo rimas perfeitas, meus pés novamente pisam firmes no chão.
Entre os livros reabertos frente ao espelho, percebo que os olhos têm se fechado menos. O cabelo cresceu, o rosto anda se parecendo mais comigo, contudo as mãos são as mesmas. Do que controlo, mudou o cheiro da pele, o gosto da boca, uma sensibilidade antiga que foi revista como exigência de meu peito, e a gagueira silenciando-se diante de convicção...
Vi hoje, entre um cigarro e outro, você enxergando essas coisas minhas que soaram como novidade. Mas não são, você sabe. O caso é que minha insistente marcha à sua incompreensão é o que me trouxe o teu sorriso de hoje. Aquele que antes mesmo eu via, e agora descrevo no mesmo tom de começo que teu toque deixou nas minhas costas.

terça-feira, maio 11, 2010

A verdade que vos fala.

A verdade que vos fala vem despindo-se aos poucos, diante do teu olhar prescrutador. A verdade de hoje não é a mesma de anos atrás. Mudará daqui pra frente, mas quer você assistindo cada quebra de linha.
Paro, em algum sonho costumeiro dessas noites que te espero, longe o bastante para que vejas todo o meu corpo, perto o bastante para que sintas a vontade que pulsa em mim dos teus passos, certos do que fazem, me alcançarem como por instinto.
A boca que te fala sobre amor é a mesma que já te renegou pela dor de dias contados no calendário. Os olhos que choram saudades tuas são os mesmos que se fecharam diante das necessidades óbvias que vinham na tua voz, tão egoístas degustando escuridão... As mãos que agarram o vento e te sentem, são as mesmas inúteis que os outos vêem vivendo sozinhas sem teu rosto por perto. O sorriso sincero, presente aos teus olhos, é o mesmo que enfraquece e perde a graça, quando a boca que fala sobre amor te renega na dor da espera. Quando os olhos, já secos do choro da saudade, te vêem cansada e de voz fraca, o vento cessa. E as mãos confusas soltam-se do braço e dão murros contra a escuridão. E por não conseguir ver teu rosto, o corpo inteiro se cala, numa verdade silenciosa que só entenderia alguém humano demais.
A verdade que vos fala, dentro de si te eleva, te vê desabar, te invade, aquieta-se em confusão, mente tão cheia dos seus motivos verdadeiros, se debate em mínimo espaço, e voa contigo a lugares lindos que viraram as certezas que temos. A verdade que vos fala, te juro, susurra todas as promessas de sempre entre as reticências que abrigam o "nós".

segunda-feira, maio 03, 2010

Resposta sutilmente tardia.

Enquanto discursas nesse mundo de achar que me conheces, nunca fiz questão de acabar com tuas certezas. Mas agora é diferente. Nessa manhã, pela primeira vez, tuas palavras de amor incompleto de tanto insistirem em me tocar, acabaram abafando o som desse murmúrio de desdém que envolve meus pensamentos sobre ti, e acabo te respondendo por escrita. Digo que é sutil meu atraso, porque nunca se responde rude quem diz ver amor quando você passa. Só por isso.
Não cabe a mim o teu texto grifado dando entonação a amores impossíveis. Não sou eu essa que você encontra quando vê meu corpo passando pela rua. Diferente de ti, eu vivo tudo o que temo, com maior intensidade e dilaceração poética que poderias imaginar. Mas você só me resgata do teu peito, assim viro plena e mentirosa, porque a verdade que queres escutar, nunca vai sair da minha boca.
Digo novamente, não invente uma história trágica que não nos cabe, porque não somos conto de nenhum sonho perfeito. Você esbarrou em mim em alguma travessia de etapa, não fomos predestinadas, não fomos feitas iguais, não me conheces.
Aí fico agora, quando quero acabar com tudo isso antes das minhas mãos se calarem diante desse julgamento obsessivo nos teus textos, pensando a que noite se referias quando disse que sou eu quem sempre vai embora, sendo que contigo, nunca estive em lugar nenhum.

domingo, abril 11, 2010

Ontem tudo explodiu.

Ontem, de repente, a cidade explodiu. Cada prédio, cada carro, cada banco, tudo. E a fumaça que ficou podemos ver agora de manhã, se você olhar daqui onde estou. Ainda não consigo ouvir a musica que costuma me despertar, tamanho barulho de destruição que agora ecoa nos meus ouvidos.
Confesso um pouco de medo em sair desse quarto, da cortina entreaberta me surpreender e revelar os escombros da outra noite, todos de pé.
Começo a tossir o sangue de quando não aguento o tranco de me remontar, começo a tossir o sangue das bombas dentro do meu peito. E o tic-tac desse relógio já não é mais nada poético.
Deixo meu olhos grudados no teto, e enquanto ele escuta meu silêncio dilacerador, tem um sobrevivente batendo na minha porta. Peço que entre, acenando pro nada.
Converso contigo e falo que não me interesso por vôos noturnos, que não quero desprender-me dos meus tijolos jogados aqui e ali, que não importa quando tempo você fique por perto.
Você me pergunta porque meu olhar está traduzindo minha bagunça interna tão claramente nessa manhã. Respondo que um celular que não toca acabou explodindo a cidade toda. Cada prédio, cada carro...

quinta-feira, abril 01, 2010

Sinto.

Sinto que todos os ossos do meu corpo podem quebrar a qualquer momento, rasgando a pele para expelir toda a raiva retida dentro dele, aquela que faz os dentes tremerem por não conseguir fechar os olhos em paz quando o dia se faz noite.
Sinto meu coração quando coloco as mãos sobre a nuca. Batimentos que deveriam servir de distração como se fossem o tic-tac de um relógio, porém fazem ter mais vontade de correr e dar murros em paredes que destroem aos poucos, o que de mim, eu sentia que era bom.
Sinto os pés incansáveis, trôpegos, tentando manter o corpo de forma sustentável. Levando-me aos piores lugares, fazendo-me dar passos a frente até a rua errada, nadando pela cama, procurando sustentação entre os cobertores sentindo mais frio do que nunca, sem poder nenhum de escolha, sem parada para um novo fôlego...
Sinto água escorrendo pela testa, e ela reflete minha preocupação com a saúde interna. Me dedico tanto a não desmaiar que acabo de olhos fechados sentido as gotas de suor, e minha pressão apressada vai baixando até o pulmão responder com respirações afogadas, rápidas e fracas. Acordo sem saber porque sinto tanto...
Sinto ferro atravessando a coluna e ultrapassando a garganta quando penso que deveria ter fome. E é tão forte a dor... Mais do que o medo que sinto de cair no esquecimento, queima cada poro quando penso que você está indo, deixando esse mundo inteiro ao meu redor.

segunda-feira, março 29, 2010

Dazed soundtrack.

Suffocating under words of sorrow,
All this things I hate.
The poison.
Her voice resides.
Green roof, cobble stone floor,
Winter eve at an outdoor coffe.
Juggling fire between fingers and lips,
She stood draped in a veil of smoke.
So I can go with the flow... You know.
But this flow are killing me, every step of every day. You know.
Could you please take a deep breath
And give me a count to ten?

quarta-feira, março 24, 2010

Raindrops.

Eu tento.
Mas não é suficiente.
Deixe-me pegar emprestado as nuvens cinzentas dessa tarde, para rabiscar sobre elas.
Vou enviá-las à sua terra inviolável.
E reze, para que não mudem de curso ou de forma
Como acontecem com as palavras.
Ou até que se choquem contra outros desabafos românticos
E escorram água como uma chuva de aplausos.
Há muito mais a dizer, e tenho, de fato, deixado muita coisa de lado.
Mas por agora, estou tentando perscrutar o mundo
Através das gotas de chuva que se agarram no varal da minha casa.

segunda-feira, março 22, 2010

Thirst unanswered.

Falar disso tudo de uma forma diferente, de algum jeito que não machucasse a retina quando eu fosse revisar o texto, deixaria na boca o gosto de ferrugem dessas grades hospitalares. Que para mim, acabam sendo mais familiares do que essa nossa prosa colocando pontos nos papéis em branco... Acostumei-me a enganar-me.
"Arruma teu rosto, menina. Levanta esse queixo. Esconde entre teus cílios que já não tens mais aquela ânsia por nos entender. Escuta-nos como quem ouve propaganda barata. Está pronta a tua mente para a nova enciclopédia de desculpas, e junto disso, uma gota do teu sangue nessa pele branca personificará o nosso discurso."
Encontrei três ou quatro motivos para vir até aqui ver com meus próprios olhos, mas aos poucos, fui perdendo eles pela janela entreaberta do carro. E a noite esfriou de repente. Quando vi um ou dois motivos no rodapé daquela sala para permanecer alí sentada, foi só por cansaço, foi pela espera não ser em vão, foi só pela viagem não ser um erro interligado as minhas decisões entre dúvidas. A certeza de que o silêncio reinaria e que aquela cara de "você já sabia..." não iria mais me chatear, tinha que ser concretizada para os meus passos futuros estarem completamente descalços de vocês, sentindo terra firme.

domingo, março 07, 2010

Tudo em tão pouco.

Ela esvaziou os teatros da cidade,e colocou todas as cadeiras no meio da rua . Mandou os cérebros petrificados para casa, e trancou os portões dos estacionamentos com fitas de presente. Desbancou os meus mestres e meus conceitos. Depois fez palco para a criança distraída e mostrou-me passagens que vão além do que sei. Louvou as folhas que já caíram no chão, e obrigou os hospitais em que já estive a abrirem todas as janelas. Fez o vento soar minha música predileta, e expandiu seu cheiro por todas as calçadas a nossa frente. Acabou com o peso da minha mochila, e entreteve tanto meus olhos que minha angústia diária sentiu-se acoada. Parou como quem não sabe o próximo passo que vai dar, e esperou-me decidir, ficou alí flutuando entre as construções que iam desabando ao nosso redor... E isso tudo só com aquele riso entre uma e duas da manhã.

terça-feira, fevereiro 23, 2010

A estrada.

Algumas coisas ficam com ar de desonestas ao tentarmos defini-las. Algumas pessoas dizem que suas vidas são influenciadas demais, justamente porque sempre tentam defini-la... Nós usamos como base da nossa verdade o pensamento, que para mim está subordinado à estrada... Como não podemos dizer onde exatamente está posicionada uma casa a menos que sairmos dela, como não se pode dizer o sabor da nossa própria língua... É prova de que não podemos usar o pensamento para definir algo que vem antes do pensamento.
Então, tudo o que podemos definir ou analisar, ou sequer imaginar são manifestações de ruas inexplicáveis vida a fora, de jornadas comparTRIlhadas conforme vamos fazendo curvas, e paradas. Isso é o que nos explica, é por onde andamos pensando, e às vezes por onde pensamos que andamos.
Também a certeza dessa enorme incapacidade do ser humano de definir o caminho é muito sinistra, a falta de um objetivo final, ou a mudança dele de um dia para o outro. Mas de que importa o gosto que tens na boca quando te perguntam para onde vais e pensas como J.R.R Tolkien, com aquele sorriso entreaberto: "West of the moon, east of the sun."

Temporário.

Andei lendo coisas que escrevi e uma parte minha não me reconheceu. Isso é mais doloroso do que qualquer espera, e mais sem sentido do que qualquer traição.
Andei escrevendo versos claros, falando como se conhecesse bem o que sinto... Não mantendo mais as aparências, em queda livre me joguei em ti de um jeito que me deu medo agora, tão grande a altura em que estou.
Andei pensando na liberdade que sentia antes do meu corpo ser tomado por uma coisa só... Tive imediatamente uma saudade enorme daquela respiração despreocupada tão cheia de mim, e faltou-me o ar...
Andei enjoada, abrindo e fechando todas as portas da casa como se isso fizesse alguma diferença para quem quiser entrar, como se eu pudesse me trancar aqui e deixar esse "sentir" todo, do lado de fora, só um pouco...
Andei escorregando no meu tom de voz ao falar contigo pelo telefone, matando a vontade dos dedos que te ligam em movimento involuntário. Esquecendo do quanto posso ser fria, agora grito desafinada que te amo, e te amo... Mas esse teu silêncio sempre irá me lembrar alguém.

quarta-feira, fevereiro 10, 2010

(En)canto.

Antes da dor, entre meu queixo e pescoço ainda sinto a leveza do teu sorriso tranquilo de mãos seguras nas minhas. Deve ser por isso que agora a febre vem em forma de insonia, e o corpo sente isso quando aos poucos vou tirando a roupa na procura insistente pela liberdade que só esse momento me dá. Mas nada acontece quando vejo que agora refletida em mim só há tua voz cansada, tão cansada e pesada que o impacto me cobre de cinza, fazendo-me odiar confessar que sou a mesma, e é porquê agora me vês com teus olhos de quem não precisa de ajuda que pareço tão exagerada...
Tenho me arriscado muito, dando tudo de mim para de repente, só mais uma vez me sentir daquele jeito, aquele que só você viu, e me reconhecer de novo, sem ter medo de tropeçar e perder um orgão vital pela estrada.
Hoje é dia 8 e tudo o que verei me fará pensar nos que já foram, no teu jeito de me fazer encontrar uma surpresa boa aqui e alí.
De tudo que já nos aconteceu, tiro de toda dor e felicidade tanta força, que se fosse algo que se pudesse entregar... Ah se eu pudesse te entregar algo mais do que tudo o que sou, talvez você voltasse a sorrir aquele sorriso que um dia me deu.
Sinto-me tão menor em relação a qualquer coisa, que agora te ver indo embora seria como brisa leve me levando para outro lado, viveria o meu tempo a passos rasos, com o corpo fazendo os pés andarem.
Não tenho mais espaço para tempestades e horas brincando de ping-pong com o teto jogando meus porquês pro alto. Quase enlouqueci te procurando em linhas tuas que de tão sinceras me faziam ter mais e mais medo de nunca conseguir viver sem isso.
Mas eu não sinto muito, não tiraria esse teu poder sobre mim por nada desse mundo, porque és amor, eu estaria em boas mãos até se não confiasse em ti.
Das coisas que já te disse, dos meus dias que te prometi, mantenho intacta cada palavra dentro de mim, para se um dia quiseres aquele refugio novamente...
Entre meu queixo e pescoço, agora engulo o que me dói, ato esse que concretiza minha desistência de viver esperando por algo. Na mesma hora, vejo teu rosto que mal toquei, mas que é o que conseguiria desenhar com perfeição mesmo daqui a dez anos, me sentindo com 18 novamente, a cada traço dado.
És a melhor parte de mim, sei que falo isso a cada estação, porém se torna mais verdade a cada vez que me repito.
Amo você, e dizer isso é a parte mais rasa dessa imensidão toda. Mesmo que agora tenhas mais receios, eu viveria uma vida te esperando e amando cada vez mais te amar, só pelo simples fato de entender que essa é a coisa mais real que já tive. Foi o que me salvou, o que me manteve de pé, e estando você do meu lado ou não, é o que vai me guiar sempre, todos os dias do mês.

quinta-feira, janeiro 21, 2010

Tô aí, mas fico aqui.

A menina de chapéu de feltro e pés descalços sai de casa novamente, ela procura pela grama que se escondeu no inverno desse lugar. Procura pelas pessoas que em outros verões a mostraram o que é ter saudade. Faz força para escutar novamente a música dessa cidade, e vai delicadamente entrando no contexto batendo devagar os passos no chão, e descobre-se parte de tudo aquilo.
Florianópolis tem um pouco de cada pouco que ela já teve. Pensa como seria bom se te encontrasse de novo, diverte-se com a ideia de que ainda moras na mesma casa e que logo topariam pela rua de pedra. E as coisas pareceriam mais fáceis como se nada tivesse acontecido depois de vocês. Ela vai dizer que nunca deixou de usar esse chapéu, vai dizer que às vezes pensava em voltar. Será mentira. Caberá a ti escolher o rumo dessa situação. Mas a vinda é sincera, o pedido será sincero, e o choro nunca foi forjado.
A menina sabe que é fácil ficar onde tem esse sol que não dói na pele, só por não estar em casa com suas lembranças grudadas na parede, ri e avisa os amigos que não volta mais. Diz que vai te procurar nos antigos lugares. Naquela biblioteca atrás daquele balcão, entre as grades do parque, no mar de manhãzinha...
Ela será uma companhia triste. Mas nunca se sabe. Talvez terá de esperar mais algumas vidas para estar no lugar certo, ou renascer mais forte e menos complicada, menos intensa. Verás nos olhos da menina que ela não conseguiu, sem saber o quê direito, verás o fracasso em sua boca. E a vontade, a vontade que chegou agorinha de ter alguém por perto novamente, de sentir a pele de fora para dentro, a fará ter momentos da mais pura felicidade. Ela irá explicar-te que foi porque precisava, e que está voltando porque precisa, e você a deixará ficar até que se cure.

sexta-feira, janeiro 08, 2010

Reticências, omissão intencional do que se devia dizer ou não (2).

Tentando encontrar um canto pro meu sono no meio dessa bagunça toda, imagino como seria estranhamente interessante pôr fogo em tudo agora, porque sei bem que só nos queimamos se houver a intenção (mesmo inconsciente) de apaga-lo depois. A cada dia, um novo soco na cara me acorda antes de poder completar qualquer sonho...
Entre as venezianas desse quarto o dia passa, e fico me perguntando onde estão as pessoas que também sentem-se assim quando saboreariam o tempo como uma chuva de minutos, tempestade que assusta.
Entretanto a simples lembrança da tua partida e a promessa da tua chegada me fazem voltar ao meu corpo, onde eu sempre procurei algo que, com certeza, está entre teus dedos, ou nos intervalos da tua respiração... Isso, me encontro em ti, como no tempo em que estás pensando em versos pro meu sorriso, ele já é todo teu.
A minha existência tornou-se um simples detalhe do que representa a nossa ligação e o que o teu canto faz comigo... Por isso estou bem, mesmo com os dias chovendo nossas lágrimas de minutos distantes, poucas pessoas já amaram tanto aponto de não ter medo da morte por se sentirem sempre acompanhadas.