sexta-feira, janeiro 13, 2012

Vejo a menina sentada no fim do corredor. Ela finge dormir mas seus olhos às vezes abrem. Parece que está num misto de realidade interna e externa abrindo e fechando os olhos. Várias pessoas a vêem, mas ela só enxerga dentro de si, ou o seu reflexo externo.

De olhos fechados a menina aperta os lábios como quem cessa um beijo, depois afoga os dedos nas mãos, faz as coxas tremerem e assim se torna um corpo em total desespero... Abre os olhos para relaxar esse corpo que se debate, e fazendo cara de quem se conhece olha nos olhos da pessoa que passa como se importasse muito a cor deles, mas eu sei menina, que você só procura pelo seu reflexo.

Vejo a menina sentada no fim do corredor e agora me parece tão triste... Como um oceano de areias vazias de vida, ou uma flor que nasceu numa caverna escura... Ela passa as mãos pelos seus cabelos e depois aperta-se com um abraço forte, assim, de repente, seu corpo fica dócil.

Então ela me olhou, como antes me viu de olhos fechados, agora finalmente abertos para alguém acessar aquela dor. Dessa vez não me tomou como reflexo de si, me deixou chegar perto e humildemente pediu ajuda... Mas os homens levaram o espelho do fim do corredor cedo demais, e eu a perdi.

quarta-feira, janeiro 11, 2012

Desconfio dessa luz que reflete a cor pros meus olhos, essa claridade que vem na brisa fria do dia anoitecendo, esse gosto azedo na voz que me diz bom dia... Cego-me para tudo que não vem de dentro, procurando te encontrar entre meus pulmões... De olhos fechados, respiro teu nome.

A presença de qualquer outra pessoa significa sua ausência, e por não suportar, afogo-me na saliva que prende minhas palavras retorcidas pela falta de foco.

Procuro sentir meu corpo imerso como se fizesse diferença água ou ar tocando minha pele, se o que sinto é só meu coração bombeando o sangue que arde lembrando dos pequenos resquícios do teu cheiro pela casa.