Entregue a terceira pessoa, a menina continua falando de si usando esses exemplos bárbaros de heróis de guerra. Às vezes sente-se mais sozinha, e é quando o som dos primeiros carros da manhã invadem a janela do oitavo andar. Suas razões para levantar de nada adiantam por esses minutos de solidão amarrarem as suas pernas entre os cobertores.
Pensa em não ser mais tão vulnerável e jogar-se dentro de si, como quem não tem medo de seus sonhos. Mas, inerte, a dúvida sobre o porquê dessa construção que faz de sua solidão, dói tanto... Tenta não pensar mais em soluções. Sabe que para levantar precisa estar certa que não vai buscar nada além das coisas que pode ter.
Por isso ela deixa de te ligar, deixa de te mostrar o que invadiu seu mundo e que não dá mais espaço para conversas otimistas. Amarra as próprias mãos num livro e seu pensamento em quaisquer palavras que não sejam as suas, porque tudo nela acaba te procurando.
A cada nova versão de acontecimentos que se repetem, mais essa vontade de viver só com o que se tem a mão parece ouro.
Quando levanta, ela repete para o vento o quanto ele a traiu, já que o amou tanto que todo susurro agora soa falso por sentir o vento que traz, esse vento que não avisou que poderia levar também.
Anda até a sala e se indaga sobre que tipo de pessoa se tornou a partir do momento em que algumas coisas mudaram de forma, ela sabe que não é uma pessoa ruim, e que o amor deveria ser uma coisa boa.
Acaba não tendo mais problemas para se locomover por essa manhã, posto que se purificou com seus sonhos pequenos, com suas vontades que não invadem ninguém, conformada com a hora que passa e não volta. Mas antes de dormir, grita que nunca teve um problema real dentro de si, que só estava tentando ser a denúncia do que estavam fazendo com ela, enquanto ninguém ouvia.
E tu, que é para quem ela não liga mais, como podes exigir a fala se não sabes, primeiramente, o que significa o silêncio?
Um comentário:
ela sabe o que é o silêncio.
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