sexta-feira, junho 22, 2012

Dando-me adeus.


Estive mentindo sem saber, quando pensei entender o que eu falava sobre mim naquele tempo.
Um ano ou dez, quantos quilômetros andei? Nenhum centímetro com meus próprios passos.
Então eu venho pensando em você dirigindo sozinha, e não faz sentido tudo fazer sentido só agora.
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Chegas devagar me fazendo perceber que o tempo não fez nada por mim. Vejo meus dias voando pela janela e ninguém os segura, são brisas insignificantes.
E podes dizer que é muito fácil falar, e que tem um milhão de estrelas que concordam contigo. Mas elas também estão sozinhas.
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É quando te vejo chegando e todas as cicatrizes, ao redor do meu corpo, não doem mais aos meus olhos... Assim entendo o quanto eu só olhava para elas antes do teu rosto me causar maior efeito perturbador.
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Estou olhando para mim, de novo, cegando-me para ver por dentro. Sentando aqui jogando conversa fora com o espelho, tento distrair a visão enquanto não chegas. Mas só consigo pensar no que tu vês, no que está vendo agora, com esses teus olhos inseguros.
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E cada dia que eu disse que queria ser alguém diferente mas não hoje foi apagado da memória junto com todas essas coisas que flutuam ao meu redor sobre quem eu era. Elas caíram no chão, dando-me adeus.
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As pessoas pensam que o tempo tem algo a ver com elas porque não conseguem ver o que eu vi naqueles olhos inseguros. E um milhão de estrelas que os escoltam até em casa, tiram fotos do seu rosto, que recebo em forma de sonho.
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Então acordo pensando em você dirigindo sozinha, e não faz sentido tudo fazer sentido só agora, com apenas um feche de memória...

segunda-feira, junho 11, 2012

Ela vai pular.

Ela deu dois passos a frente e inclinou a cabeça deparando-se com uma altura que ninguém que não queira abandonar a vida enfrenta. Logo seu corpo a trouxe para o meio do terraço a fim de que ninguém a visse nesse misto de covardia e sinceridade. Sabe que qualquer um a acharia louca, e que se desistisse, seria a única a decepcionar-se por realmente não ser.
Não conseguia enxergar a paisagem, tão pouco escutar os carros e os barulhos da cidade... Só ouvia o som do seu cigarro queimando o papel que seu lábio tragava, empurrando mais fumaça a um pulmão que logo deixaria de fazer o seu trabalho.

Mas faltava alguma coisa, alguma lágrima ainda não tinha caído... E antes disso seus membros se tornaram imóveis a espera de "sabe-se-lá" que constatação que fosse um impulso para a queda.

Juntou as mãos e assoprou ar quente entre os dedos "minhas mãos nunca permaneceram quentes por muito tempo mesmo", pensou.

Fechou os olhos procurando algum feche de luz dentro da sua cegueira, encarou o vento de rosto aberto procurando algum cheiro familiar que a faria mudar de ideia... De repente, o mundo aquietou-se quando seu peito gritou que foi a dúvida que a trouxe até ali, que essa dúvida sempre esteve ali, e que não poderia mais viver pensando se é normal ou não ser ela, do jeito que é, porque nunca pareceu ser...

Instantaneamente seu corpo relaxou como se ouvisse Bach como quando era pequena e nada a atingia estando sozinha. Abriu os braços abraçando a certeza de que não sabe porquê se tornou essa pessoa no terraço do prédio, e que sonhou com o dia em que isso não doeria mais, que sempre sonhou em não precisar de explicação para sua existência...

Foi quando sorriu, e escutou em sua mente uma campainha tocar antes da queda livre... Ela pulou do prédio de vinte andares, abrindo em seu pensamento, a porta para enfim entrar a sua paz.

quarta-feira, junho 06, 2012

Choices.

-Voltando a caneta pro papel, os dedos nas cordas do violão, ouvidos na música, pés no chão sentindo o calor da terra... Penso que estou viva.

-Estou viva com os dedos no papel, ouvidos nas cordas do violão, voltando a caneta à música... Mas o calor da terra me faz pensar:  "Pés no chão".

-Pés no chão, calor de música, dedos nos ouvidos...Voltando à terra penso em caneta e papel, e logo estou viva nas cordas do violão.