segunda-feira, outubro 27, 2008

Nesse voluntário exílio, arrepender-me-ei.

As luzes eram mais rápidas que a batida embalando os rostos noturnos, que estavam por ensaiar personagens. A força dos olhares, mais tarde, era estranhamente tranqüila e pedindo tanto, aqueles olhares sempre me pedem tanto...
E eu como sempre a flutuar sobre você, tão distraída... Comecei a te dividir em pedaços, um para cada pessoa que me interropia, gente que não tinha idéia do que eu falava, tão distantes do que sou agora, que você nem imaginaria, você nem imaginaria...
Digo que meu amor nunca foi desculpa para um cessar fogo dentro de mim, repito de diversas formas que você é a tempestade que chega para dar medo, é confusão descomunal, um desespero claustrofóbico... Você é um respirar cansado e tão contente, que eu quase não consigo perceber a linha que difere cada sentimento.
Mesmo assim, eu continuo entorpecendo o que os outros acham que é certo, mesmo respirando você, esqueço-me de tentar resistir ao que sei, sempre vai estar ao meu redor.
Assim o lugar fica cada vez mais monótono, e depois da ação virar conseqüência, afetando da maneira esperada o corpo que em tempos não se sentia assim, a forma com que eu penso é bem mais esclarecedora, quem dera eu conseguisse lembrar de manhã... Minhas atitudes agora são bem mais coerentes com o que transpareço quando estou só, quem dera fosse sempre assim... Porém o cheiro da bebida amarga e a dor entre os olhos e a boca são mais difíceis de lidar nessa hora, do que a minha insistente vontade de me entender.
Não estou propriamente vazia naquele lugar cheio do que não é necessário, preencho-me da falta, das lacunas, dos nossos nadas, nessa manhã translúcida que acende os devaneios do que sonho sem precisar de auxílio...
Solto toda a minha raiva num murmurio letal, meus gestos falados não tiveram o rumo dos olhos certos a noite toda, então acabo me percebendo calada, procurando como no passado, um jeito de não emudecer de vez.

domingo, outubro 12, 2008

O vento que toma o corpo sozinho.

A fumaça que meu corpo forma no chão molhado ofusca seu rosto quando penso que te vi... O gosto amargo na saliva que teu último beijo não dado deixou, me faz ter que pensar menos.
Nessa noite de alegorias humanas, de ingressos de sorte... O cansaço é proporcional aos recursos que se tem para ir embora. Ir embora... Solução pré julgada como solução. Medo ansioso que não venhas e a tormenta chegue logo depois.
Penso no que vem de longe, longe demais até do que sou, longe do que conseguiria ser... Um distânciamento de corpos estrategicamente feito para instigar, pro último canto sempre soar como o primeiro em qualquer espaço vão entre nós.
Eu não espero compreensão... Eu senti a ausência, eu toquei o vento que te conhece bem, pedi que venhas logo, fechei os olhos para te criar... E por algum tempo, te senti mais perto do que se realmente estivesses comigo. E preciso dizer, fui feliz.

sexta-feira, outubro 03, 2008

Presença de tudo o que não me deixa dormir.

Por mais que meus braços estejam acostumados com sua presença cotidiana em meus ombros, não relaxam. E minhas pernas insistem em esquecer o que a realidade busca afirmar friamente e dolorosamente, assim continuam mexendo.
Os olhos, que já não são mais o mesmos, parecem enaltecer a dor que vem da testa, aquela que cria água.
Não consigo dormir, não consigo parar de imaginar soluções e escreve-las em papel com selo postal. Me distraio sentindo o cansaço que é proporcional a vontade de te ver, que não surge prometendo um fim, permanece. E permanece enquanto o doce da sua presença se esvai no que sei que criei, pintora de pensamentos que me tornei.
Seu fundo colorido tão singular faz com que tudo seja tão apaixonante e desesperador...
Você, ao mesmo tempo refúgio que me abriga e ausência que me mantem só, não me deixa dormir essa noite.