segunda-feira, junho 02, 2008

Displicência.

Para sua segurança, desacelerou seus passos, acalmou sua voz, engoliu seco e fechou os olhos.
Para sua vingança, impediu-se de chorar, não descansou mesmo com todos os ossos doendo e tirou o casaco.
Para sua rendição, estendeu o pano branco na janela, destrancou a porta e ficou de pé sem pretenção de correr.
Para sua possível cena decadente, colocou um lenso no bolso, tirou de perto os objetos de valor e cortou o fio do telefone.
Para suas falsas desculpas, fechou a boca com fita adesiva, esvaziou a mente e esperou sem pressa.
Para sua raiva, mordeu os dentes forte, fechou suas mãos apertando até sangrar e respirou fundo.
Estava pronta, desarmada, sem ser ela mesma, ridícula e inútil.
Esperava por alguém que viesse com palavras em atitude dizendo o que ela precisava escutar berrando, já que de tantos sentimentos ensurdeceu-se.
Aguardava as críticas sem pensar em argumentos, quebrava o que já estava trincado por tanto tempo sem gritar.
Não esperava mais entendimento, não esperava mais a atitude sincera, não esperava nem de si mesma ser o que é.
De tão sozinha, a dor doía mais e ela alimentava isso pronta para explodir, bomba relógio que se tornou.
De tanto medo, não teve vontade de se soltar da corta que teceu, imóvel por opção.
Para a sua vida, estendeu a mão até o peito e tirou o pouco que restou, esperando viver com que ainda se consegue aproveitar de um corpo em sofreguidão.