terça-feira, dezembro 11, 2012


Cuidadosamente ela tranca a porta do quarto como se estivesse deixando em stand by seu presente. Deita na cama fechando os olhos e rindo com a ideia de abri-los e ver-se três anos mais nova. Acha engraçado estar nessa idade em que todo passado não é tão distante cronologicamente. Suspira e diz ao seu travesseiro: "três anos, deveria parecer ontem...". No entanto, ela sabe muito bem que fechou tanto os olhos quando esse passado era presente e doía, que agora é tarefa impossível vê-lo nítido novamente. 
Começa a divagar pelo quarto contando para si histórias incríveis do que poderia ter acontecido, do que poderia ter sido, do que deveria ter feito... A voz começa a ficar rouca a medida em que lembra do rosto, quase sentindo o gosto das antigas possibilidades. 

Encara o espelho e sabe que já não tem a mesma face, que já não lhe cabe mais a fúria por ser quem é.

Percebe o quanto sente-se sozinha quando quer ficar só.


Disca o número de alguém que entende quando ela diz: "só liguei para saber se tu ainda estás aí...".



sábado, novembro 17, 2012

E poderia ser mais...

Enquanto as galáxias se deslocam para o vermelho de Hubble, enquanto a velocidade da luz em um meio a um vidro ou o ar, fica menor que c (celeritas = velocidade), enquanto um tumor desenvolve um conjunto de rede de vasos sanguíneos para se manter, enquanto as plantas utilizam dióxido de carbono e água para obter glicose através da energia da luz, enquanto a luz do sol atravessa um trecho de chuva e é refletida e refratada no interior das gotas e devolvida em várias cores ao ambiente formando um arco-íris, enquanto uma briga entre namorados resulta em uma cabeça começando a apresentar ideias obsessivas prevalentes ou delirantes sobre infidelidade, enquanto em um dia de trabalho uma professora tem um insight e entende o papel do erro segundo Piaget, enquanto alguém explica a um leigo um assunto cujo qual sabe muito e sente-se orgulhoso por ter voz ativa, enquanto pela primeira vez algum músico consegue interpretar e executar um som por via dos sistemas de escrita utilizados para representar graficamente uma peça musical, enquanto alguém boceja estimulando a circulação sanguínea e diminuindo a temperatura corporal para driblar o sono em uma conversa... Ela continua naquele sofá, iceberg que se tornou.

sexta-feira, novembro 16, 2012




O que desperta contigo toda manhã garota? Acabou-se o mistério? Cadê a música e os versos em atitude? Não vejo mais o amor incondicional exposto, a fotografia a mostra, seus desenhos grudados na parede, você no palco representando uma mentira linda, você se reconhecendo no reflexo do espelho... Você... Você... Cadê?


Entregue a terceira pessoa, continuas falando de si usando como exemplo de felicidade alguém que eras. Como se a culpa fosse da própria inspiração, por ser maior do que o comum na época, ter sumido agora. Como se mais alguma coisa além de você prendesse suas pernas entre os cobertores. Como se cada pensamento, gesto e decisão sua, não continuem cobertas por um só nome...


quinta-feira, novembro 08, 2012

Às vezes tenho medo do que eu não consiga dizer quando não estou metaforizando... Que não sou obra de ficção, que espero por respostas como todo mundo, essas coisas... Mas um amigo me disse que a destruição é uma forma de criação, então talvez eu me destrua um pouco, talvez agora eu me desconcerte para poder descrever aqui como fui juntando meus pedaços.

segunda-feira, outubro 29, 2012


Passo o dia suspirando e sorrindo para a câmera que esconde aqueles olhos castanhos. E as fotos acabaram mostrando mais do que deveriam.
Desde que começaram a existir na minha vida, os dias de folga quando estou só, são sacrifícios semanais. Nesses dias vejo pessoas tentando chegar perto de mim, e as imagens entram pela retina com o único propósito de aquecer o coração. Porém, confrontam-se com a imagem do meu amor perdido, que está por trás dos olhos. Então qualquer outra que se arrisque a entrar, só vai até ali. 
E tudo, só vai até ali. Ninguém entra enquanto esse amor não se dissipar, enquanto uma foto minha não dizer mais do que todas daquele dia: "não vejo a hora de saber o que estou fazendo aqui...".

terça-feira, outubro 23, 2012

C.G.

Há muito tempo atrás em dois universos particulares, houve um terremoto de palavras tão grande, que nem os meses de calmaria e silêncio fizeram desaparecer os escombros pelas ruas. Esse terremoto mexeu o mundo todo de duas pessoas, as peças caíram nos lugares errados, e agora ninguém lembra onde é o lugar certo de cada coisa. E de tanto procurarem seus lugares e não encontrarem, essas pessoas já não sabem mais quem são.

Enquanto o mundo vai se desajustando cada vez mais, e o desespero por não saber se estão procurando no lugar ou nas pessoas certas, ou se sabem o que é certo, ou até se ainda sentem alguma coisa, invade o peito tão forte que o grito de uma, um dia talvez ecoe no ouvido da outra, como um dia cantaram:
 I know I'm so far away but you can put this song to play...

domingo, outubro 14, 2012



Talvez eu já tenha te visto mesmo, num desses sonhos em que a realidade é uma coisa pouca quando se acorda. Pode ser que eu já tenha te sentido mesmo, na brisa leve que acalma meu corpo no vai e vem rotineiro dos dias, em alguma gentileza de um estranho, ou em um abraço carregado de saudade...

A cada encontro com teus olhos, cego-me mais para outros olhares. E fico diariamente sem palavras para descrever o quanto eu já quis saber o que era emudecer-se diante de uma voz.

E ao mesmo tempo é só isso: Eu te esperando enquanto tua vida segue as coisas que achas que devem ser contempladas.

E assim é que a letra foge dos meus dedos e minha voz some da boca. Enquanto o amor toma conta desse corpo cansado, fecho os olhos dando boa noite aos meus rabiscos, cartas e xícaras de café, esperando que amanhã, quem sabe, eu encontre a chave que destranque esses pensamentos de mim.

sábado, outubro 06, 2012

"Mas tu prometeste..."

Nenhum telefone toca, nenhuma mão se estende, nenhuma frase para ser lida, nenhuma voz que vai chegar, o silêncio do quarto a faz cair na real, cair no chão. 

Ela se contorce em dor chutando as paredes, derrubando o espelho, rasgando livros, encontrando em si uma resistência incrível para a dor física quando um a um, os cacos vão rasgando sua pele a fim de mostra-lá que está viva. 

Grita com a boca que treme, o eco de mil pessoas afogando-se em solidão. Conta seus mais secretos segredos como se fossem tão pequenos, mas não consegue soltar a voz e dizer o nome dela... Tenta escrever. Sente raiva do papel, parece que ele sabe que é impossível e ri como todos riem. Ninguém se importa com mais uma cena comum de drama mudo. 

Mais um amor perdido e ninguém se importa. Ninguém liga para a alma das pessoas que vão, pouco a pouco, não conseguindo quebrar o silêncio que o eco de um nome deixa em um quarto. E assim todos morrem.. Perdidos em tentar desgravar o nome de tudo o que vêem. 

sexta-feira, outubro 05, 2012

Não, nem está frio lá fora. Esses casacos que ela coloca na mochila são atos involuntários que não tem a ver com a temperatura corporal. O frio vem de dentro, e os casacos só servem para acobertar o medo que ela tem de descobrir isso.

A insônia produz mesmo essa vontade de pegar o telefone e gritar qualquer coisa, qualquer frase, qualquer choro, qualquer pergunta que desperte a voz do outro em resposta, para acalmar a alma doente.
Mas ela não se arrisca, e encontra-se, mais uma vez, andando trôpega por suas próprias pegadas.

domingo, setembro 30, 2012



segunda-feira, setembro 17, 2012

Ela tinha uma vontade repentina de gritar todo dia em que acordava. Tinha também um súbito desejo de voar para outra cidade onde ninguém soubesse seu nome... Fazia parte do grupo das pessoas mais inexplicáveis. Inconstante, poderia mudar de roupa cem vezes antes de sair, mudar de bebida preferida, de planos, de boca para beijar...
Mas um murmurio insistente hoje ecoa em seus ouvidos o dia inteiro, é aquela leve brisa de humanidade que sente como chuva fina. Ela que gostava de pensar que encara a vida sem remorso por nunca fingir, agora sente frio igual a todo mundo.

Hoje quando acordou, escreveu: "Já estava na hora de voltar, de deslizar os dedos pela caneta assoprando para longe as nuvens que escurecem o meu céu. Já estava na hora de voltar, de deixar registrado aqui o quanto é difícil fazer de conta que não senti falta de escrever..."

Rele a frase e encontra-se distante de tudo o que foi até hoje. Não consegue mais descartar a hipótese de que está se reinventando. Sente medo de perder a poesia dentro de si, se perder a solidão que sempre a acompanhou.

"Mas não era isso que você queria? Amar e esquecer essa vida de escritos vazios?" Diz pra si.


Não, não era isso, nunca vai ser isso... Ainda uso minhas reticências...

quarta-feira, agosto 01, 2012

Interferência pró-ativa de memória fracassada.


Uma chave dentro de uma caixa que é aberta assim que a decepção chega de novo aos meus ombros, destranca a gaveta que revela minhas fotos antigas. Ando pelo quarto espalhando meus retratos por ele... Preferia não vê-los, eles me fazem sentir uma saudade cada vez maior da menina nas fotografias. Mas percebo em mim a necessidade de me encarar, de olhar para cada uma dessas que fui e dizer que sinto muito... Elas parecem um amontoado de coisas boas vistas separadamente, mas no fim, borro cada vestígio de sorriso quando meus olhos se enchem das lágrimas que eu já esperava que caíssem.

Outra vez essa casa está toda sobre minha cabeça, outra vez passo por esse grito interno, outra vez essa sensação de "minha vida tem se baseado em histórias que me conto sobre o que ela deveria ser" invade cada poro da pele.


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Deixei o corpo dela quebrar minha existência em pedaços. Diversas vezes tive que remontar minhas partes vitais para continuar respirando ao seu lado, e juntando primeiro os pedaços que me deixam de pé, acabei esquecendo os que me deixam feliz.

Esperei que ela visse os detalhes que faltavam nesse meu corpo incompleto. Fiquei treinando minha memória para resistir a toda a decepção recente para lhe dar mais tempo. Esperei que ela me fizesse sentir de novo como a menina das fotos, como fazia antes... Mas não, existe uma certeza que me invade agora, e que constrói novamente o muro que foi quebrado para que não ficássemos separadas... Ela nunca quis estar comigo, mas as circunstâncias vieram como boas desculpas para estar. 

quinta-feira, julho 19, 2012

the only exception...


Andando pela cidade de repente vejo aqueles prédios, aqueles você mais amava... Lembro que antes eram construções mal acabadas, nem pintadas estavam e tão pouco havia alguém sorridente na parte de dentro. O caso é que eu gostava de perguntar por que eram tão especiais só para te escutar dizendo: "você sabe, eu te vi olhando eles antes de me ver, e quando os vi refletidos nos teus olhos me apaixonei por eles também".

E não se precisava provar mais nada.

Como eu poderia imaginar que isso soaria ainda mais bonito agora que realmente sinto o que você falava? Queria que estivesses aqui para me ouvir falar de amor também, e ver que o meu é parecido com o que o seu era, mesmo que não seja para você. Sei que entenderias quando eu dissesse que encontrei minha exceção, e que tudo que os olhos dela refletem fazem os meus encherem-se de lágrimas.

Queria tanto você aqui agora... Sei que verias o tamanho desse amor e eu não me sentiria mais tão pequena perto dela, porque depois disso você nunca mais teve o mesmo tamanho pra mim...

sábado, julho 14, 2012


Quase sufocas outra vez, e o meu peito já não tem mais ar pra te doar. Tropeças direto pro abismo das tuas pré-suposições e meus braços já sem forças, não te seguram mais.

E sinto como se tivesse que te dizer "vai ficar tudo bem". Mas é triste ver todas essas fotos e comparar com a memória recente de nós duas.

E é agora que eu sinto a tua falta.

Todo o caminho que percorremos e as conversas esclarecedoras não vão nos ajudar agora que não conseguimos dar um beijo de despedida... Sabemos.

Sinto como se tivesse que te abraçar e dizer "você vai ficar bem". Mas sou do tipo de pessoa que sempre fica assim sem jeito de falar, me sentindo uma vida inútil sem saber onde é o ponto que termina a minha própria frase, repetindo ao teto versos de atitudes que nunca realizarei.

sexta-feira, junho 22, 2012

Dando-me adeus.


Estive mentindo sem saber, quando pensei entender o que eu falava sobre mim naquele tempo.
Um ano ou dez, quantos quilômetros andei? Nenhum centímetro com meus próprios passos.
Então eu venho pensando em você dirigindo sozinha, e não faz sentido tudo fazer sentido só agora.
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Chegas devagar me fazendo perceber que o tempo não fez nada por mim. Vejo meus dias voando pela janela e ninguém os segura, são brisas insignificantes.
E podes dizer que é muito fácil falar, e que tem um milhão de estrelas que concordam contigo. Mas elas também estão sozinhas.
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É quando te vejo chegando e todas as cicatrizes, ao redor do meu corpo, não doem mais aos meus olhos... Assim entendo o quanto eu só olhava para elas antes do teu rosto me causar maior efeito perturbador.
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Estou olhando para mim, de novo, cegando-me para ver por dentro. Sentando aqui jogando conversa fora com o espelho, tento distrair a visão enquanto não chegas. Mas só consigo pensar no que tu vês, no que está vendo agora, com esses teus olhos inseguros.
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E cada dia que eu disse que queria ser alguém diferente mas não hoje foi apagado da memória junto com todas essas coisas que flutuam ao meu redor sobre quem eu era. Elas caíram no chão, dando-me adeus.
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As pessoas pensam que o tempo tem algo a ver com elas porque não conseguem ver o que eu vi naqueles olhos inseguros. E um milhão de estrelas que os escoltam até em casa, tiram fotos do seu rosto, que recebo em forma de sonho.
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Então acordo pensando em você dirigindo sozinha, e não faz sentido tudo fazer sentido só agora, com apenas um feche de memória...

segunda-feira, junho 11, 2012

Ela vai pular.

Ela deu dois passos a frente e inclinou a cabeça deparando-se com uma altura que ninguém que não queira abandonar a vida enfrenta. Logo seu corpo a trouxe para o meio do terraço a fim de que ninguém a visse nesse misto de covardia e sinceridade. Sabe que qualquer um a acharia louca, e que se desistisse, seria a única a decepcionar-se por realmente não ser.
Não conseguia enxergar a paisagem, tão pouco escutar os carros e os barulhos da cidade... Só ouvia o som do seu cigarro queimando o papel que seu lábio tragava, empurrando mais fumaça a um pulmão que logo deixaria de fazer o seu trabalho.

Mas faltava alguma coisa, alguma lágrima ainda não tinha caído... E antes disso seus membros se tornaram imóveis a espera de "sabe-se-lá" que constatação que fosse um impulso para a queda.

Juntou as mãos e assoprou ar quente entre os dedos "minhas mãos nunca permaneceram quentes por muito tempo mesmo", pensou.

Fechou os olhos procurando algum feche de luz dentro da sua cegueira, encarou o vento de rosto aberto procurando algum cheiro familiar que a faria mudar de ideia... De repente, o mundo aquietou-se quando seu peito gritou que foi a dúvida que a trouxe até ali, que essa dúvida sempre esteve ali, e que não poderia mais viver pensando se é normal ou não ser ela, do jeito que é, porque nunca pareceu ser...

Instantaneamente seu corpo relaxou como se ouvisse Bach como quando era pequena e nada a atingia estando sozinha. Abriu os braços abraçando a certeza de que não sabe porquê se tornou essa pessoa no terraço do prédio, e que sonhou com o dia em que isso não doeria mais, que sempre sonhou em não precisar de explicação para sua existência...

Foi quando sorriu, e escutou em sua mente uma campainha tocar antes da queda livre... Ela pulou do prédio de vinte andares, abrindo em seu pensamento, a porta para enfim entrar a sua paz.

quarta-feira, junho 06, 2012

Choices.

-Voltando a caneta pro papel, os dedos nas cordas do violão, ouvidos na música, pés no chão sentindo o calor da terra... Penso que estou viva.

-Estou viva com os dedos no papel, ouvidos nas cordas do violão, voltando a caneta à música... Mas o calor da terra me faz pensar:  "Pés no chão".

-Pés no chão, calor de música, dedos nos ouvidos...Voltando à terra penso em caneta e papel, e logo estou viva nas cordas do violão. 

segunda-feira, maio 28, 2012

Não me arrisco a perder qualquer detalhe do que preciso para ter-te quando não estás por perto... Assim atravessas uma porta e eu não posso deixar de perceber o movimento das tuas mãos que logo procuram pelas minhas. Andas pela rua apertando a alça da bolsa, me olhas no compasso certo enquanto teus cabelos vão conversando com o vento, e sorris de repente. Pergunto no que estás pensando, - interrompendo o fluxo espontaneamente perfeito do teu corpo - dizes que não é nada, e teu rosto me responde a pergunta num silêncio de expressões gritantes.

- O vento que sai da tua boca quando falas é como se fosse uma parte minha, como se tu soprasses meus dedos que guiados por ti, escrevem essas frases deixando fluir os sons que estão escondidos no nosso abraço... -


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Acordas permanecendo imóvel, e o pouco de luz que entra no quarto consegue refletir teus olhos sonolentos pedindo por mais tempo de descanso. Não consigo deixar de notar cada traço da cena, e sabendo que jamais me livrarei dessa lembrança sorrio de repente. Perguntas no que estou pensando, digo que não é nada... E logo respondo-te com um beijo pedindo para ficares até quando for possível, mas dando-te a certeza de que essa cena é eterna mesmo quando existir a ausência de nós duas.

sexta-feira, maio 25, 2012

Continuas dançando entre os pensamentos que me mantém acordada... Como se uma certeza de felicidade cobrisse meus olhos formando um muro que não deixa mais lágrima nenhuma cair. 
De repente, tanto silêncio nesse quarto me assusta. E a chuva de hoje é a prova do que tuas palavras de solidão fizeram com o meu mundo. Essa chuva sou eu, derramando água triste pela cidade toda, lavando cada lugar onde passarás amanhã para te mostrar de que nada vale nossos passos conjuntos se não estiveres feliz como eu.

Enquanto dormes e eu deixo o barulho das gotas embalando teu sono, torço para que acordes tendo a certeza de que nenhuma chuva, mesmo forte como essa, apagará teus traços da minha pele.

sábado, maio 19, 2012

Reorganizando os pensamentos desse mês, explicando uma metáfora por outra, acabei encontrando mais de mim no que deixei de te dizer.
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Quero entregar-te hoje, todas as reticências que cabem no meu silêncio...

terça-feira, maio 15, 2012

Jura que vais ter dúvidas de que isso é teu?


Hoje tornou-se inevitável a antiga hiperatividade com o controle remoto, procurando entre um canal e outro uma resposta cabível para essa vontade que em mim já não cabe mais... 

Corto-te em vinte pedaços à medida que vou trocando de canal, e os junto novamente fechando os olhos. Mesmo assim, ainda não consigo encontrar quem realmente és no meio dessa escuridão toda. 

Confrontando-me novamente com o mistério de conhecer alguém, percebo o quanto isso ainda me assusta.

Lanço-a através das páginas do meu dia, claro. Mas pensava que ela ainda não estava realmente escrita, até alguém ver seus traços desenhados no meu rosto. Desenhos dela em mim, que explicam melhor do que qualquer metáfora que eu venha a desenvolver, o quanto estamos juntas.


Quero que ela saiba que escrevi um novo roteiro de viagem... Seguirei pelo caminho do tom da sua voz que me levará até a escuridão do que ela é, para que eu construa uma morada. Logo eu não estarei lá para descobrir onde estou no escuro, e sim porque coberta de luz ela deve ser ainda mais linda.

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Calo-me diante da tua voz, retribuo teu abraço jogando-me dentro do teu corpo, te beijo prometendo não fugir na hora em que essa escuridão esclarecer-se em luz, e sempre que te olho, é isso que estou dizendo com meu sorriso.

quarta-feira, maio 09, 2012

You liked your cocaine chaser...

Cinco anos e ainda é a mesma canção que te traz até mim... Fingindo não me importar com toda essa burrice de ter me preocupado tanto contigo, quando te imagino estás dormindo. É o único jeito de não doerem meus pés no chão quando voltas e achas que estou feliz por te ver, e na verdade estou só me situando em que parte está a história de sempre que começa e termina, repetindo-se idêntica ao longo da tua vida. 

Não caminhas ao lado de ninguém, garota. Tropeças nas pessoas empurrando-as para longe, e esse é teu único momento de contato maior. Embarcas nesse teu plano de mundo em que todos os seres inferiores a ti precisam entender o que a tua grande sacada da vida já te ofereceu.

Mas ninguém é cego como pensas, o mundo te virou a cara por pena desses teus olhos mentirosos. 

quarta-feira, abril 25, 2012

You answer to a new name that changes all the time

Essa garota me pede para que eu pare explicar sobre a brisa que passou e a sopre dentro de suas mãos, me deixando sem fôlego para tal coisa. Cobre meu rosto com seus cabelos e jura que além dela, ninguém no mundo me vê.  Escreve o seu lugar no meu corpo com suspiros, circula pela minha vida deixando livres os caminhos pro que eu quiser lhe falar. 

Essa verdade só nossa, escolta meus passos riscando um sorriso na minha boca mesmo quando não posso toca-la. 
As palavras mais bem escritas não a surpreendem, não a intimidam... E isso me fez esquecer das antigas frases feitas, assim tremo novamente.

Segurando minha mão, sem uma palavra ela se apresenta. Encostando seu rosto no meu ombro ela me dá todas as certezas. E assim dialogamos...

- Já percebeu quantos "eu quis" , "eu ia" , "eu pensei", você já me disse? Melhor nem falar nada...

E me calo diante de tanta espera por versos em atitude.

Garota, sem as palavras, sou só eu... 

segunda-feira, abril 16, 2012

One face among the many

Vamos para casa antes que chegue aquele vento frio que faça esse silêncio ficar ainda mais desconfortável. Vira logo essa chave, ou posso te pedir para ficar do lado de fora entre as coisas que não são tuas. 
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Essa noite enquanto cobrir-te de um calor que não é meu, e encorajar-te de palavras que não saem mais da minha boca... Sei que tuas pálpebras sonolentas esperarão encontrar outro alguém, e que entre a gente toda terrível frustração do dia virá em forma de sorriso. Deixo-te viver livre desse discurso que não cabe mais no tempo dos nossos dias que não se encontram.
-
Mas meu bem, escuta essa música que vem da outra casa, essa felicidade que entra pela janela enquanto nossos corpos se retorcem em solidão. Nessa hora tudo parece tão possível...

quinta-feira, abril 12, 2012

Congelo-me hoje das coisas que são nossas, e do meu desejo de cair e pedir para que me levantes, sabendo que levarei uma vida lembrando-me do teu rosto na esperança de ter esquecido algum detalhe importante que talvez a ausência me faça seguir em frente.


domingo, abril 01, 2012

- Chamavas ela, eu conseguia ouvir.
- Eu sei.
- Gritavas às vezes.
- Nem me lembra.
- Sou só uma voz interna, mas ando preocupada com nós.
- Eu sei.
- Ela vai embora, é o último aviso.
- Nem me lembra.
- Acha-te muito especial. Mas não és.
- Eu sei.
- Agarra-te na ideia da morte pra não ter responsabilidade de ser feliz em vida? Quanta covardia.
- Nem me lembra.
- Eu não estou lembrando nada, para de te repetir como quem pede desculpas. Sabes que esta conversa só acontece porque você pensa nisso.
- Eu sei.
- Então mexa-se.
- Mas eu... Nós... Temos tanto medo.
- Eu sei. Nem me lembra...

sábado, março 24, 2012

Quero te tirar dessa fotografia morta de mim. Quero te arrancar desse passado em que teu olhar não almejava  o meu por trás da câmera.
Quero te fazer um quadro de palavras, de promessas, de desculpas... E colar "VOCÊ" no centro de tudo.
Quero sentir a dor do teu beijo de adeus, tocar teus ciúmes com as mãos e dizer que sou tua como quiseres.
Quero escrever no teu corpo meu poema mais bonito, e dentro da tua boca soltar palavras silenciosas de saudade com um beijo.
Quero cair na tua frente e dizer que não precisas mais esperar, e que não me cabem as palavras que já foram inventadas para serem ditas nessa hora.

Sei que só conseguirei sentir uma imensa vontade de pegar tua mão e leva-lá até meu rosto, assinando com com os dedos teu nome em mim, entregando desse jeito meu futuro na certeza que entenderás assim que abrires os olhos...

Existe um motivo para eu continuar escrevendo até hoje. E quero que saibas, as frases não passam de caminhos que sempre me levaram até você, que te fizeram ficar mais um pouco...

Mas só há um motivo para eu parar de escrever nesse blog agora: As palavras não cabem mais nos meus sonhos.

O que eu quero dizer é que estou chegando e, não sei mais escrever... Porque passou da hora em que sonhar nos basta.


(E o estranho é que, tenho a mesma sensação em tudo que te escrevo: "Está sem começo e fim").

sábado, março 17, 2012

Nunca parei para pensar como ela conseguiu expandir seu cheiro por toda a cidade. Em como colocou seu rosto em tudo o que vejo, seu gosto em tudo que vem à minha boca... Nunca me questionei sobre como em qualquer madeira o artesão só entalha o corpo dela, e em qualquer quadro do mundo estão desenhadas suas mãos. Escritores fazem poesias com o seu nome, e tudo isso, me tocava sem eu questionar o porquê.

Hoje sei que tudo isso foi porque deixei que ela viesse, deixei que propusesses sua estadia na minha vida que me tomou, em pouco tempo, todos os sentidos.

Mas agora me pergunto, e vou me perguntar sempre, como alguém pode queimar tudo tão rápido? Deixando todos os livros, quadros, ruas, meu corpo... Com cheiro e gosto de fumaça...

quinta-feira, março 01, 2012

domingo, fevereiro 19, 2012

Meia noite e vou para a casa.

A noite parece a mesma de início... Os postes iluminam os mesmos rostos que estampam as calçadas da rua São Paulo. As mesmas conversas, as mesmas insinuações representando interesse pela tua boca garota. Ainda reconheces aqueles olhares curiosos que invadem teus olhos, mas não queres mais jogar.

Todos aparecem exatamente nos mesmos lugares de onde você os deixou. Então, te questiona garota, por que te sentes tão deslocada?

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Sentou-se.
Na rua, na praça, na mesmice de ideais vestidos de couro.... São carcaças que se julgam minoria.
Começas a entender que são minoria porque não mudaram nada. "São estátuas que se movem", pensas.
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- Não pode ser só isso, eu sentia falta daqui. Parecia tão real essa saudade...
É o que resmungas fumando um dos teus vinte melhores amigos e... Espera garota. Você reconhece aquela face que não te abraça! E você mal conhece aquela que te aperta os ombros como se fosse ontem anunciado o fim dos tempos!

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Espera, lê o mundo com calma que tem algo desentoando do contexto. Caminha devagar entre os corpos...
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Por fim, constatasse o que não querias admitir. Com certeza existe alguma coisa nessa água que queima na garganta que não reflete mais o teu rosto.

[Calma, circula calma.]

Você sabe que a inspiração voltou. Mas não... Não deveria ser só isso. Não queres só escrever. Não te sentes viva.

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Hoje me tornei personagem atuando fielmente detalhe a detalhe do que algum dia fui. E entendi tudo.
É, sou eu, a garota. E esse "tudo" é só meu.

O que posso dizer é que voltei para casa, mesmo vindo do lugar que algum dia chamei de lar.

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De repente lembro do que alguém disse atravessando a rua, alguém que já desfrutou de mais momentos comigo que qualquer namorada, que qualquer amigo... Essa pessoa que cuidava de mim a sua maneira falou:
- Gostei do cabelo.

Essa pessoa continuou o seu caminho.

Não sei se foi porque o meu caminho não segue mais o dela, ou pelo simples fato dela não ter vontade de cruzar alguns toques de carinhos comigo mas...

Me veio uma imensa vontade de raspar tudo.

sexta-feira, fevereiro 17, 2012

Parte 4.

O Flash da tua câmera iluminou o quarto por três segundos. E eu consegui ver as tuas cores refletidas no espelho... Entre elas surge teu rosto que não encaro nos olhos, a tua boca que beijo mas não sei desenhar, o teu corpo que amo mas ainda não entendo como se move... Tudo iluminou-se por três segundos. Mas eternizou-se por uma vida. 

Pedirei para que esqueças que por tanto tempo fui tua casa distante, e que me tomes como um gole de vinho nas noites solitárias.

Contarei quantos passos demos até esse abraço, somaremos lágrimas e suor... Até que o espelho seja iluminado pela luz do dia.

Minhas mãos estarão tremendo, meu corpo febril te segurará pelas costas dizendo que te ama. Minha boca te agradecerá por perder o medo de esclarecer o mundo só naqueles três segundos da fotografia tirada, ela dirá "para sempre". E eu te pedirei para casar-se comigo.  

Aí você perguntará: - Quem você é?

E eu responderei que a pergunta correta sempre será: - Quem eu era antes de ti.

quinta-feira, fevereiro 16, 2012

Texto rouco.

Ah, ela chegará sim. Recitando meus poemas favoritos, e como esse texto, vou amar ser clichê. 
Chegará pela manhã, e a tarde surgirá sem percebermos.
Estaremos esperando a noite num ato inconsciente de dormirmos juntas para acordarmos pro sonho de mais um dia de deslumbramento...

Ah, quando a noite chegar ela continuará dissertando sobre sua vida, e eu tocarei seu rosto de olhos fechados para sentir sua voz ecoando pela cidade. É só o que ouvirei: sua voz, sua respiração e seus passos. Não lembrarei do meu nome, esquecerei dos rostos familiares e poderá chover sobre meus ombros, que nada, nada num mundo em que aquele rosto estiver ao alcance do meu corpo, vai desviar meu olhar dele.

Ela chegará sim. Chegará para dizer que muitas outras chegaram desse jeito em minha vida, que não há motivo para o avermelhamento do meu rosto. Dirá que não tem nada de extraordinário, que sua volta será normal. Mas estarei em chamas, estarei vivendo o fim de uma guerra. Direi a ela que espere alguns meses, que estou fazendo as pazes e entendendo o meu medo de perdê-la, que estou confiando em cada traço do rosto dela quando diz que me ama.

Ela vai entender.

Enquanto isso eu continuo no sofá, junto ao telefone, como todos os dias. É como uma promessa transcrita sobre minha retina que fecho enquanto grito: ela virá.

Mas por hoje, realmente será o fim. A última batalha do dia.

Hoje durmo sem querer acordar.

sábado, fevereiro 04, 2012

96 folhas formato 140mm x 202mm





Não, hoje não existe qualquer expressão subjetiva minha que não esteja ligada a um laço que se amarra em você.
Não, não é possível que o tempo seja eternamente só sol ou chuva como agora é. Ele vai aprender a ser tempo e me dar idade quando eu tiver um passado com você. Passado com você pelo sol ou pela chuva...

Sim, existe a orfandade explícita em tudo o que transborda em letras minhas... 


Mas eu também sonho enquanto durmo. 

sexta-feira, janeiro 13, 2012

Vejo a menina sentada no fim do corredor. Ela finge dormir mas seus olhos às vezes abrem. Parece que está num misto de realidade interna e externa abrindo e fechando os olhos. Várias pessoas a vêem, mas ela só enxerga dentro de si, ou o seu reflexo externo.

De olhos fechados a menina aperta os lábios como quem cessa um beijo, depois afoga os dedos nas mãos, faz as coxas tremerem e assim se torna um corpo em total desespero... Abre os olhos para relaxar esse corpo que se debate, e fazendo cara de quem se conhece olha nos olhos da pessoa que passa como se importasse muito a cor deles, mas eu sei menina, que você só procura pelo seu reflexo.

Vejo a menina sentada no fim do corredor e agora me parece tão triste... Como um oceano de areias vazias de vida, ou uma flor que nasceu numa caverna escura... Ela passa as mãos pelos seus cabelos e depois aperta-se com um abraço forte, assim, de repente, seu corpo fica dócil.

Então ela me olhou, como antes me viu de olhos fechados, agora finalmente abertos para alguém acessar aquela dor. Dessa vez não me tomou como reflexo de si, me deixou chegar perto e humildemente pediu ajuda... Mas os homens levaram o espelho do fim do corredor cedo demais, e eu a perdi.

quarta-feira, janeiro 11, 2012

Desconfio dessa luz que reflete a cor pros meus olhos, essa claridade que vem na brisa fria do dia anoitecendo, esse gosto azedo na voz que me diz bom dia... Cego-me para tudo que não vem de dentro, procurando te encontrar entre meus pulmões... De olhos fechados, respiro teu nome.

A presença de qualquer outra pessoa significa sua ausência, e por não suportar, afogo-me na saliva que prende minhas palavras retorcidas pela falta de foco.

Procuro sentir meu corpo imerso como se fizesse diferença água ou ar tocando minha pele, se o que sinto é só meu coração bombeando o sangue que arde lembrando dos pequenos resquícios do teu cheiro pela casa.