Daqui desse muro, consigo ver as ruas se interligando e as luzes dos faróis que deixam rastros escuros. Por onde você viria?
Escuto passos de gente que chega sem falar, e gente conversando tão alto que o som ofusca qualquer outro. Mas você não, virias silenciosa, talvez saindo de todas as ruas, de todas essas lojas e bares, de dentro daquela casa azul, atrás daquela moça dos óculos vermelhos... Nessa noite isso é completamente aceitável. Na verdade não sei como ninguém mais te vê vindo de todas as direções... Ou então por que todos se apressam? Não tem sentido te procurar em locais específicos, sendo que é só olhar mais de perto cada detalhe ao redor de si.
Não me angustiaria te esperar a noite toda - já o faço - é que sei que virás, sei que virás...
Aperto forte contra as mãos o livro rosa que você me deu, e sinto que estás chegando, e que ninguém duvide, porque eu sei que em um minuto, uma hora, ou um ano, você estará no lugar do livro, e eu não olharei para direção nenhuma a não ser para mim, dentro de ti.
Por enquanto, te sentindo e te vendo em tudo sem motivo concreto a não ser a personificação do meu amor, e mesmo que as linhas do meu caderno sejam boas ouvintes, me pergunto baixinho: "Por onde andas, Mariana Tavares?"