Escrevo-te hoje em total desordem porque é como você me conheceu, metade achada, metade perdida...
Só porque o sentimento de agora não é relatável, não vou me render a decepção que a simplicidade desse texto pode me dar, diminuindo o que é imensurável e aumentando a distância entre nós.
Escrevo-te hoje pois viver é atrapalhar-se entre as palavras que criamos. E se eu pudesse fazer de outro jeito, meu bem, tu sabes que eu não voltaria a testar tua tese dos meus "ciclos" de palavras.
Não vou mais tentar encontrar em mim ou em nós, artifícios para bancar toda essa história já que agora não temos mais a mínima possibilidade de sairmos ganhando dela.
Escrevo-te hoje, para dizer algo sobre minha total impossibilidade de escrever-te como antes. Para dizer que fiquei mais silenciosa, que perdi uma certa amizade que eu tinha com meus pensamentos depois que provei o gosto do tempo que passou enquanto eu tropeçava em qualquer coisa, e eras tu que caías.
Escrevo-te hoje, para nomear aquele sentimento que eu disse que estava procurando em mim... Era mais fácil ser a pessoa dos teus sonhos quando tudo o que eu fazia era sonhar também. Ninguém consegue escapar de criar jeitos de driblar o tempo enquanto o amor não acontece...
Escrevo-te hoje para dizer que quando eu projetava tudo o que eu dizia saber sobre o amor, imaginava alguém como tu na minha porta.
Escrevo-te hoje para mostrar que agora sei sobre tudo o que eu falava, sobre o que eu ansiava todo dia, e que estava bem ali na tua chegada e no teu jeito de embaralhar minhas palavras...
Sei que agora não existe verso ou frase feita que faça algum efeito em ti, não existe mais minha combinação costumeira de argumentos que pedem perdão sempre de pé... Só a mesma garota que tu conheceste voltando a vida, sabendo que desperdiçou a única chance de fazer-se ter razão sobre o que é amar, quando no começo negou o amor que sempre esperou sentir.