sábado, agosto 28, 2010

Então tu viesses...

Desenrola o cabelo do pescoço e encara o frio desse vento que te faz sentir o meu perfume. Escuta o som do mundo, e o que ele fez para estares aqui tornar-se-á escrita nos muros da cidade, dentro do caderno na tua letra, entre o que quero que saibas sobre mim...

Relaxa, ninguém pode falar de si sem falar sobre outro alguém, pesadelos são mais reais quando estamos sozinhos, e a gente já se cruzou sentindo a mesma coisa... Descanso o corpo como se ele estivesse no ar segundos antes do suicidio, poesia concreta.

Faço-te uma casa, abro-me para um abraço, deixo estar o que me é mais importante, e permaneço aqui.

Enquanto discursas teu gosto, percebo o quão finita é a linha entre a tua boca e o que dizes. Chego mais perto para esquecer a fala.

Estamos esperando você ir embora, estamos encontrando as palavras certas para deixar isso claro. Estamos certas de algo que não é dito, quero dizer.

O que me fez ficar, mesmo com tanto sono, é a ideia de que logo nos remontaremos sem essa parte que surge quando você fala e eu penso. Guardo aqui nesse texto, como uma caixa de remédios no armário.

Por hora viro-te pra ver o que vejo, e logo nos desencontramos porque não consigo tirar os olhos do teu rosto. Enquanto tu achas que estás sozinha no que pensas, estou me tornando parte do teu corpo, para ver através dos teus olhos o que eu não conseguiria ver com os meus, quero dizer.

sexta-feira, agosto 13, 2010

Eles precisam fazer barulho agora...

Agora que quero companhia silenciosa de pensamentos voadores, a casa inteira grita e sinto as janelas tremerem. Tudo tão intacto, cheio de alguma coisa desconfortável que penetra no vidro.
Não posso deixar de ver, mesmo fechando os olhos com força como quando criança. Alguns costumes como esse voltam a tona nessas horas, são os mais naturais, os que mais se parecem comigo.
Fechando os olhos lembro de quando dizia o quanto a amava e sentia o beijo preso na garganta, noto que ele ainda está aqui, e às vezes engasgo tossindo vontades pelo meu caminho.
Comprei o cheiro que me lembra os poucos beijos consumados. Vou espalhar pelo quarto... Assim como pele postiça flutuará no ar, até penetrar no que me é desconfortável. E talvez fechar os olhos agora, faça o mundo silenciar-se.
Então boa noite, amor. Saiba que te vejo como ninguém ao teu lado te vê, entre minhas pálpebras bem fechadas tenho sua expressão mais bonita, e esse sorriso é visível só para mim, nem tu sabes dele.

domingo, agosto 01, 2010

Preciso reconciliar-me com meu corpo.

Deixo-me em casa, e meu corpo sai escoltado pelos seus novos movimentos rápidos. A pele tentando acompanhar, perde-se nesse misto de convicção e ingenuidade, e acaba afogando-se em seu próprio suor. Tento não me escutar nessas conversas mecânicas de quintas intenções, porque guardo o apreço que tenho pela voz em algum lugar entre os órgãos vitais.
Deixo-me em casa enquanto meu corpo voa mutilando-se por escolher vias fáceis para lugar onde a dor acontece já na escolha da partida.
Tenho observado-me ser eu, e não consegui me acompanhar.
Não posso mais conviver com essa angústia de querer mais e mais, sobrando tão pouco pela manhã.
É julho e já faz calor. Enquanto todo mundo congela, sinto tanto calor... E a pele continua descolorindo-se a cada toque de mãos que vão apagando cor e textura.
Por isso pensei em voltar, para resgatar o que você desperta em mim, esse medo de morrer que justifica momentos em que o tempo pára e a gente não consegue respirar. Sinto falta de temer por ti e por mim. De ser uma coisa só.
Pensei em chegar cega, aguardando o toque do teu cheiro, e sentir tuas unhas na minha nuca em forma de arrepio. Entretanto sei que são exatamente esses devaneios que me mantém em casa, pedindo-me para fechar a porta ao sair. Digo a mim mesma para voltar fisicamente intacta, que minha parte doente ficará nesse silêncio entre minhas coisas que aos pedaços flutuam sobre a cama.