Ontem, de repente, a cidade explodiu. Cada prédio, cada carro, cada banco, tudo. E a fumaça que ficou podemos ver agora de manhã, se você olhar daqui onde estou. Ainda não consigo ouvir a musica que costuma me despertar, tamanho barulho de destruição que agora ecoa nos meus ouvidos.
Confesso um pouco de medo em sair desse quarto, da cortina entreaberta me surpreender e revelar os escombros da outra noite, todos de pé.
Começo a tossir o sangue de quando não aguento o tranco de me remontar, começo a tossir o sangue das bombas dentro do meu peito. E o tic-tac desse relógio já não é mais nada poético.
Deixo meu olhos grudados no teto, e enquanto ele escuta meu silêncio dilacerador, tem um sobrevivente batendo na minha porta. Peço que entre, acenando pro nada.
Converso contigo e falo que não me interesso por vôos noturnos, que não quero desprender-me dos meus tijolos jogados aqui e ali, que não importa quando tempo você fique por perto.
Você me pergunta porque meu olhar está traduzindo minha bagunça interna tão claramente nessa manhã. Respondo que um celular que não toca acabou explodindo a cidade toda. Cada prédio, cada carro...