terça-feira, fevereiro 23, 2010

A estrada.

Algumas coisas ficam com ar de desonestas ao tentarmos defini-las. Algumas pessoas dizem que suas vidas são influenciadas demais, justamente porque sempre tentam defini-la... Nós usamos como base da nossa verdade o pensamento, que para mim está subordinado à estrada... Como não podemos dizer onde exatamente está posicionada uma casa a menos que sairmos dela, como não se pode dizer o sabor da nossa própria língua... É prova de que não podemos usar o pensamento para definir algo que vem antes do pensamento.
Então, tudo o que podemos definir ou analisar, ou sequer imaginar são manifestações de ruas inexplicáveis vida a fora, de jornadas comparTRIlhadas conforme vamos fazendo curvas, e paradas. Isso é o que nos explica, é por onde andamos pensando, e às vezes por onde pensamos que andamos.
Também a certeza dessa enorme incapacidade do ser humano de definir o caminho é muito sinistra, a falta de um objetivo final, ou a mudança dele de um dia para o outro. Mas de que importa o gosto que tens na boca quando te perguntam para onde vais e pensas como J.R.R Tolkien, com aquele sorriso entreaberto: "West of the moon, east of the sun."

Temporário.

Andei lendo coisas que escrevi e uma parte minha não me reconheceu. Isso é mais doloroso do que qualquer espera, e mais sem sentido do que qualquer traição.
Andei escrevendo versos claros, falando como se conhecesse bem o que sinto... Não mantendo mais as aparências, em queda livre me joguei em ti de um jeito que me deu medo agora, tão grande a altura em que estou.
Andei pensando na liberdade que sentia antes do meu corpo ser tomado por uma coisa só... Tive imediatamente uma saudade enorme daquela respiração despreocupada tão cheia de mim, e faltou-me o ar...
Andei enjoada, abrindo e fechando todas as portas da casa como se isso fizesse alguma diferença para quem quiser entrar, como se eu pudesse me trancar aqui e deixar esse "sentir" todo, do lado de fora, só um pouco...
Andei escorregando no meu tom de voz ao falar contigo pelo telefone, matando a vontade dos dedos que te ligam em movimento involuntário. Esquecendo do quanto posso ser fria, agora grito desafinada que te amo, e te amo... Mas esse teu silêncio sempre irá me lembrar alguém.

quarta-feira, fevereiro 10, 2010

(En)canto.

Antes da dor, entre meu queixo e pescoço ainda sinto a leveza do teu sorriso tranquilo de mãos seguras nas minhas. Deve ser por isso que agora a febre vem em forma de insonia, e o corpo sente isso quando aos poucos vou tirando a roupa na procura insistente pela liberdade que só esse momento me dá. Mas nada acontece quando vejo que agora refletida em mim só há tua voz cansada, tão cansada e pesada que o impacto me cobre de cinza, fazendo-me odiar confessar que sou a mesma, e é porquê agora me vês com teus olhos de quem não precisa de ajuda que pareço tão exagerada...
Tenho me arriscado muito, dando tudo de mim para de repente, só mais uma vez me sentir daquele jeito, aquele que só você viu, e me reconhecer de novo, sem ter medo de tropeçar e perder um orgão vital pela estrada.
Hoje é dia 8 e tudo o que verei me fará pensar nos que já foram, no teu jeito de me fazer encontrar uma surpresa boa aqui e alí.
De tudo que já nos aconteceu, tiro de toda dor e felicidade tanta força, que se fosse algo que se pudesse entregar... Ah se eu pudesse te entregar algo mais do que tudo o que sou, talvez você voltasse a sorrir aquele sorriso que um dia me deu.
Sinto-me tão menor em relação a qualquer coisa, que agora te ver indo embora seria como brisa leve me levando para outro lado, viveria o meu tempo a passos rasos, com o corpo fazendo os pés andarem.
Não tenho mais espaço para tempestades e horas brincando de ping-pong com o teto jogando meus porquês pro alto. Quase enlouqueci te procurando em linhas tuas que de tão sinceras me faziam ter mais e mais medo de nunca conseguir viver sem isso.
Mas eu não sinto muito, não tiraria esse teu poder sobre mim por nada desse mundo, porque és amor, eu estaria em boas mãos até se não confiasse em ti.
Das coisas que já te disse, dos meus dias que te prometi, mantenho intacta cada palavra dentro de mim, para se um dia quiseres aquele refugio novamente...
Entre meu queixo e pescoço, agora engulo o que me dói, ato esse que concretiza minha desistência de viver esperando por algo. Na mesma hora, vejo teu rosto que mal toquei, mas que é o que conseguiria desenhar com perfeição mesmo daqui a dez anos, me sentindo com 18 novamente, a cada traço dado.
És a melhor parte de mim, sei que falo isso a cada estação, porém se torna mais verdade a cada vez que me repito.
Amo você, e dizer isso é a parte mais rasa dessa imensidão toda. Mesmo que agora tenhas mais receios, eu viveria uma vida te esperando e amando cada vez mais te amar, só pelo simples fato de entender que essa é a coisa mais real que já tive. Foi o que me salvou, o que me manteve de pé, e estando você do meu lado ou não, é o que vai me guiar sempre, todos os dias do mês.