domingo, setembro 30, 2007

Ida e volta.

Não sei de onde vem toda essa aversão que sinto agora. Não sei de onde vem meu desgosto, meu gesto falho ou incoerência. Mas tenho certeza de que nada vai sumir tão cedo. Ontem foi como se eu tivesse que fazer força para respirar. Como se uma tonelada fosse carregada por mim dia após dia, e eu só a visse depois de já estar sangrando.

O que eu escuto já não faz tanto sentido assim. Por vezes me perco entre minhas limitações. Esqueço com facilidade enorme qualquer coisa. Não preciso mais da força de vontade insistentemente me deprimindo cada vez mais. Agora as correntes ficam no meio da escada, enquanto eu subo até o último andar, vou me desprendendo.

Tive a impressão por alguns segundos que esse sol que me faz fechar os olhos talvez esquentasse meu corpo gélido sem direção.

Meus pés tão cansados de correr, sem hora marcada, sem porquê, doem mais do que meu peito nunca sincero. Eu me perdi por entre seus cabelos, voando e contornando minhas idéias. Se pular, logo minha voz não irá sussurrar em mais nenhum pensamento, o toque será esquecido e o olhar perderá o sentido. De que vale descer?

O vento piora, e o calor também, espero a chegada da noite. Talvez se eu fosse mesmo pular, não traria papel e caneta, ou não estaria transbordando por dentro.

terça-feira, setembro 18, 2007

Oposto, inverso.

Acabo sempre comentando sobre as luzes do momento. Acho que elas são tão importantes para mim quanto ele próprio. Mas hoje escrevo de olhos fechados. Na escuridão de meus pensamentos, te sinto melhor. Como se eu também pudesse ficar, sem esconder-te de ninguém, em um tempo sem medidas.

Sendo atenta a cada mudança de sua face, não existe nada que me distraia. De olhos fechados, prometo a você que posso ser assim todo o tempo que me desejares por perto.

Depois de reconhecer-te entre as pessoas daquele lugar, nada mais precisaria ser dito, e não foi.
Literalmente andei quilômetros para te ver no outro amanhecer de meus devaneios. Procurando confirmar se o que tinha acontecido não fluía só de mim. Minha foto em suas mãos, logo na chegada, me liberta de qualquer dúvida vã. Esqueço de meus anseios costumeiros e me desprendo de auto-defesas. Só preciso de mais daquela escuridão.

Hoje o contentamento toma conta de cada gota de sangue minha. Porém penso em dar dois passos à esquerda, para que você acabe se distanciando também. Talvez não, com certeza qualquer disparada em direção contrária agora seria válida. Enquanto sozinha fico nessa claridade toda, é tempo de fechar os olhos para decidir.

sexta-feira, setembro 14, 2007

Antes de dormir.

A raiva corta minhas retinas fatigadas pelo esquecimento. Desce até meu peito e cobre de cinza meu coração. Mas meus ombros pesados se perdem na leveza do seu piscar de olhos. Penso que poderias muito bem ser assim para sempre.

De repente tudo o que foi dito foge do contexto certo, e o indiscutível nível das gargantas doendo faz com que nos afastemos.
A distância nunca combinada, faz do passado o ponto de partida. Das angústias, obstáculos insuperáveis. Do medo, a corrida contra não se sabe o que. Do futuro, lembranças vagas do que poderíamos ser.

Por entre as árvores continuo vendo o sol se pôr, todos os dias. Fechando os olhos e só abrindo na escuridão. Comparo o fim da tarde com você.

Erguendo minha mão na esperança de secar uma lágrima tua, toco o vazio, nada me responde.

Vou dormir com a noite testemunhando cada gesto meu de tristeza.

segunda-feira, setembro 10, 2007

'Ação' ou 'resultado de ação' : acolhida, acometida, batida, despedida, fugida, ida.

Recordo, fumaça subindo até os olhos, ajudando as lágrimas caírem.
Todas as mágoas e angústias secretas lhe ofereci.
Ficou no ar uma resposta que não faço questão de escutar.
Olhei pela fechadura do quarto escuro que criei para mim. Lá estava você. E de tanto te olhar, a chave acabou se perdendo em teus cabelos. Procuro por ela atordoada, porque sempre recordo, sei que vou ter medo de sentir saudade do que não tive.

O silêncio continua, e vem de todos os lados. Imploro por um pouco de barulho, uma chance de  me iludir, um plano fácil.

Não havia outra pessoa ali, a não ser a pessoa indo embora. Justamente essa identidade insubstituível tinha desaparecido e eu não podia de modo algum trazê-la de volta, fazer com que começasse a voltar.

Não havia nada que pudesse preencher aquela imagem formada. Enlouqueci com pleno domínio da razão, a cada passo que ela se distanciava.

Tempo de chorar. Um choro fraco, um pedido de socorro para que se partisse o gelo em que toda a cena se imobilizava mortalmente.

Recordo, seus detalhes só de ida.

sexta-feira, setembro 07, 2007

Eis senão quando...

Ela está no tom errado, mas é bela. Não se pode dizer exatamente de onde vem. E depois pensa-se que só pode ter vindo de outra parte, de muito longe. É feita da mais completa perfeição, no rosto e no corpo, de modo que tudo o que a toca logo participa, infalivelmente, daquela beleza. Mas está no tom errado, do lado oposto, vigiada esporadicamente pelas luzes passando. Ela dança. Se confunde com as pessoas e passa a dividir sua beleza de forma errada. Noto em sua voz a clareza da ironia. Olha ou não olha, agora tanto faz. Passos falhos e atitudes incertas vão desbotando minhas deduções. Riso forçado à esquerda, abraço falso à direita, dois passos a frente, eis o bar. Ela rodopia em volta do seu mundo, achando ser verdadeiro. Acaba com todas as vontades, gasta tudo e solta um último olhar. Não quero a compreender, nem tentar aceitar nada. Não é minha preocupação. Interessante mesmo é que ela não vale o chão que pisa, mas é bela, tão bela...