quinta-feira, dezembro 19, 2013

Estarei viva para a primavera.

Começo com um novo período de suplício. O telefone toca. Não existe razão especial para que seja ela, como não existe razão para que não seja. Ela telefonaria, apesar de tudo. É possível que um dia volte. É possível que tudo esteja como antes, é impossível que continue como antes. 
Aquelas mãos. Nunca tocarei a não ser que o mundo tenha piedade. Nessa febre da espera, eu a revejo dentro de uma taça de vinho. Nesse gosto do vinho. 

O telefone toca. Ainda não era sua voz. Para essa angústia, ando devagar para ganhar tempo, mantenho-me ocupada para não me ocupar de nós. Nós. Sorrio.

O que é meu sorriso se não um retrato de um covarde? Por guardar tanto medo no peito vivo nas sobras de quem eu poderia ter sido. Por abdicar a tantos sorrisos, o alter-ego gargalha do herói arrependido.

Escrevo que talvez eu a procure... Desisto.
Continuo com febre. O mundo continua acontecendo e as pessoas giram ao meu redor. E eu não sou nada. Nada. Nenhum tipo de movimento. Nenhuma grande companhia. Um buraco negro. Um abismo em que me jogo após dia após dia.