Cuidadosamente ela tranca a porta do quarto como se estivesse deixando em stand by seu presente. Deita na cama fechando os olhos e rindo com a ideia de abri-los e ver-se três anos mais nova. Acha engraçado estar nessa idade em que todo passado não é tão distante cronologicamente. Suspira e diz ao seu travesseiro: "três anos, deveria parecer ontem...". No entanto, ela sabe muito bem que fechou tanto os olhos quando esse passado era presente e doía, que agora é tarefa impossível vê-lo nítido novamente.
Começa a divagar pelo quarto contando para si histórias incríveis do que poderia ter acontecido, do que poderia ter sido, do que deveria ter feito... A voz começa a ficar rouca a medida em que lembra do rosto, quase sentindo o gosto das antigas possibilidades.
Encara o espelho e sabe que já não tem a mesma face, que já não lhe cabe mais a fúria por ser quem é.
Percebe o quanto sente-se sozinha quando quer ficar só.
Disca o número de alguém que entende quando ela diz: "só liguei para saber se tu ainda estás aí...".
Disca o número de alguém que entende quando ela diz: "só liguei para saber se tu ainda estás aí...".