Uma chave dentro de uma caixa que
é aberta assim que a decepção chega de novo aos meus ombros, destranca a gaveta
que revela minhas fotos antigas. Ando pelo quarto espalhando meus retratos por
ele... Preferia não vê-los, eles me fazem sentir uma saudade cada vez
maior da menina nas fotografias. Mas percebo em mim a necessidade de me
encarar, de olhar para cada uma dessas que fui e dizer que sinto muito... Elas parecem um amontoado de coisas boas vistas separadamente, mas no fim,
borro cada vestígio de sorriso quando meus olhos se enchem das lágrimas que eu
já esperava que caíssem.
Outra vez essa casa está toda
sobre minha cabeça, outra vez passo por esse grito interno, outra vez essa
sensação de "minha vida tem se baseado em histórias que me conto sobre o
que ela deveria ser" invade cada poro da pele.
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Deixei o corpo dela quebrar minha
existência em pedaços. Diversas vezes tive que remontar minhas partes vitais
para continuar respirando ao seu lado, e juntando primeiro os pedaços
que me deixam de pé, acabei esquecendo os que me deixam feliz.
Esperei que ela visse os detalhes
que faltavam nesse meu corpo incompleto. Fiquei treinando minha memória para resistir a toda a decepção recente para lhe dar mais tempo. Esperei que ela me fizesse sentir de novo como a menina das fotos, como fazia antes... Mas não, existe uma
certeza que me invade agora, e que constrói novamente o muro que foi quebrado
para que não ficássemos separadas... Ela nunca quis estar comigo, mas as
circunstâncias vieram como boas desculpas para estar.