Vejo a menina sentada no fim do corredor. Ela finge dormir mas seus olhos às vezes abrem. Parece que está num misto de realidade interna e externa abrindo e fechando os olhos. Várias pessoas a vêem, mas ela só enxerga dentro de si, ou o seu reflexo externo.
De olhos fechados a menina aperta os lábios como quem cessa um beijo, depois afoga os dedos nas mãos, faz as coxas tremerem e assim se torna um corpo em total desespero... Abre os olhos para relaxar esse corpo que se debate, e fazendo cara de quem se conhece olha nos olhos da pessoa que passa como se importasse muito a cor deles, mas eu sei menina, que você só procura pelo seu reflexo.
Vejo a menina sentada no fim do corredor e agora me parece tão triste... Como um oceano de areias vazias de vida, ou uma flor que nasceu numa caverna escura...
Ela passa as mãos pelos seus cabelos e depois aperta-se com um abraço forte, assim, de repente, seu corpo fica dócil.
Então ela me olhou, como antes me viu de olhos fechados, agora finalmente abertos para alguém acessar aquela dor. Dessa vez não me tomou como reflexo de si, me deixou chegar perto e humildemente pediu ajuda... Mas os homens levaram o espelho do fim do corredor cedo demais, e eu a perdi.