As luzes eram mais rápidas que a batida embalando os rostos noturnos, que estavam por ensaiar personagens. A força dos olhares, mais tarde, era estranhamente tranqüila e pedindo tanto, aqueles olhares sempre me pedem tanto...
E eu como sempre a flutuar sobre você, tão distraída... Comecei a te dividir em pedaços, um para cada pessoa que me interropia, gente que não tinha idéia do que eu falava, tão distantes do que sou agora, que você nem imaginaria, você nem imaginaria...
Digo que meu amor nunca foi desculpa para um cessar fogo dentro de mim, repito de diversas formas que você é a tempestade que chega para dar medo, é confusão descomunal, um desespero claustrofóbico... Você é um respirar cansado e tão contente, que eu quase não consigo perceber a linha que difere cada sentimento.
Mesmo assim, eu continuo entorpecendo o que os outros acham que é certo, mesmo respirando você, esqueço-me de tentar resistir ao que sei, sempre vai estar ao meu redor.
Assim o lugar fica cada vez mais monótono, e depois da ação virar conseqüência, afetando da maneira esperada o corpo que em tempos não se sentia assim, a forma com que eu penso é bem mais esclarecedora, quem dera eu conseguisse lembrar de manhã... Minhas atitudes agora são bem mais coerentes com o que transpareço quando estou só, quem dera fosse sempre assim... Porém o cheiro da bebida amarga e a dor entre os olhos e a boca são mais difíceis de lidar nessa hora, do que a minha insistente vontade de me entender.
Não estou propriamente vazia naquele lugar cheio do que não é necessário, preencho-me da falta, das lacunas, dos nossos nadas, nessa manhã translúcida que acende os devaneios do que sonho sem precisar de auxílio...
Solto toda a minha raiva num murmurio letal, meus gestos falados não tiveram o rumo dos olhos certos a noite toda, então acabo me percebendo calada, procurando como no passado, um jeito de não emudecer de vez.