As pessoas dos livros fazem tantos rodeios, talvez porque não consigam explicar, ou expressar bem a idéia da ingratidão ou descaso humano.
Seria mais fácil, se deixássemos bem claro a todos, desde pequenos, que são seres únicos (eu passaria por muito menos fases ruins se não fosse por isso).
Acho que a vaidade absoluta reina nas confissões de amor, talvez eu seja assim, talvez eu tenha espelhos demais, talvez eu tenha lido demais e enlouqueci antes da hora. Mas, convenhamos, as pessoas nunca ligam, e você não sente falta da voz, é o orgulho ferido, o número não discado. Procura arduamente algum telefone substituto, esquecendo que o processo é o mesmo.
Eu, com conceito elevado ou exagerado de mim, nunca liguei, pelo menos não literalmente. Eu, ainda que inábil a qualquer coisa que esteja fora dos meus sonhos, consigo forças para a grande mudança.
O fato é que sei que não preciso disso, mas sei que isso é preciso, não por mim, mas pelas horas gastas ao telefone.
Conheci pessoas bem vestidas, em balcão de bar cool, que se diziam interessar pelas artes, e como se levantassem peso, cuspiam frases decoradas elevando seu ego. É normal ir ao banheiro e ver uma dessas pessoas com a mão do lado esquerdo do peito, procurando o coração que deveria estar alí. Procurando algum refúgio, algum lugar onde o que lhe é natural poderá ser exposto sem nenhuma interrupção, aquele amparo que não tem tempo de sentir nos braços de desconhecidos em noites tão curtas.
Para todos os que foram e não ligaram, para todos os que perderam na lembrança quem são, para todos os que perderam a habilidade adquirida ao longo dos anos de amar infinitamente, dou de bom grado toda minha desatenção, desconsideração e desprezo.