Vejo a menina sentada no fim do corredor. Ela finge dormir mas seus olhos às vezes abrem. Parece que está num misto de realidade interna e externa abrindo e fechando os olhos. Várias pessoas a vêem, mas ela só enxerga dentro de si, ou o seu reflexo externo.
De olhos fechados a menina aperta os lábios como quem cessa um beijo, depois afoga os dedos nas mãos, faz as coxas tremerem e assim se torna um corpo em total desespero... Abre os olhos para relaxar esse corpo que se debate, e fazendo cara de quem se conhece olha nos olhos da pessoa que passa como se importasse muito a cor deles, mas eu sei menina, que você só procura pelo seu reflexo.
Vejo a menina sentada no fim do corredor e agora me parece tão triste... Como um oceano de areias vazias de vida, ou uma flor que nasceu numa caverna escura...
Ela passa as mãos pelos seus cabelos e depois aperta-se com um abraço forte, assim, de repente, seu corpo fica dócil.
Então ela me olhou, como antes me viu de olhos fechados, agora finalmente abertos para alguém acessar aquela dor. Dessa vez não me tomou como reflexo de si, me deixou chegar perto e humildemente pediu ajuda... Mas os homens levaram o espelho do fim do corredor cedo demais, e eu a perdi.
Um comentário:
Sinto(,) ser a menina que deixou a porta aberta do outro lado do corredor e que ainda espera...
e, procura as palavras certas para bater na porta de maneira discreta e te acordar esperando ver teu sorriso e num abraço (e)terno sentir na juventude prolongada a vida reflexo de infância banhada a sol, risos e riscos em cadernos pautados no silêncio de noites menos belas e certas. Quem fechou a porta? Mal dita seja a palavra estanque que a fez sumir no tempo, que mal dito é tão relativo as atividades vividas nestes tempos de fugas tão repentinas - malogrados pela memória e a possibilidade de transbordá-la -. Repetitiva. Quem chamou de porta com descarado eufemismo às paredes? Antes poderia chegar ao fundo sem-corredor tateando as não-paredes cor de sol-poente, prestes a ver a noite nascer cheia de expectativas e sabê-la, por inteiro. Agora talvez nem obtenha resposta a estas palavras postas...
lembro-me de ti constantemente, esperando te ver ao longe no pé d'uma porta sem parede passo a passo menos emoldurada e mais retrato vivo da poesia das tuas palavras sem-palavras...
mas esse é, bem, um esboço para uma teoria emocionada...
espero por um contato; adoraria um soco no estômago e uma cerveja...
caso queira, poderia te deixar pistas na poeira que corre além das metáforas dessas palavras que querem te abraçar....
você sabe quem eu sou e sabe como me achar, através do reflexo sem-espelho.
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