Conto meus passos até a outra estante, e eles deslizam como se ainda tivessem rodas.
Escolhi para essa manhã, essa em que o quarto continua vazio de você e de mim, um livro cinza. O sol tenta abrir as cortinas, e mesmo ele escorrendo luz entre as frestas deixando tudo meio sépia e com um cheiro de promessa matutina, não abro mão da capa cinza.
Deito em cima da minha saudade, e flutuo pelas letras escutando uma música que você nunca toca, dentro da cabeça, uma cena que nunca existiu.
Perco meu tempo, e logo procuro meus segundos embaixo dos móveis.
Alguém bate forte na porta, sinto que machuca as mãos. Enquanto isso sinto a textura da chave e a certeza de que quero ficar sozinha não me impede da gentileza de destrancar, ando cansada de ser assim.
Alguém entra e me pergunta o que faço entre tantos papéis, diz que a febre chegou, que me atrasei para o próximo diagnóstico... Sabe, eu queria explicar, mas essa é uma daquelas verdades que só faz sentido a quem diz...
Se eu contasse... É, ouviria gritos de que existe um relógio em meu pulso, outro na parede, outro no computador, outro na tv, outro no celular... E eu continuaria nesse quarto vazio de mim e de você, procurando pelo meu tempo para guardar um pouco mais de mim para ti, quando existir um tempo cheio de nós.
Talvez a gente leia cores vivas e sinta o vento lá de fora... Talvez, por enquanto estou dormindo sem descansar, e acordando com esse medo de nunca mais te ter aqui, tendo que levar meu tempo comigo.
Então vem logo, minhas gavetas estão quase cheias, e é tudo teu.
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