terça-feira, dezembro 28, 2010

06:48, e é tudo teu.‏

Conto meus passos até a outra estante, e eles deslizam como se ainda tivessem rodas.

Escolhi para essa manhã, essa em que o quarto continua vazio de você e de mim, um livro cinza. O sol tenta abrir as cortinas, e mesmo ele escorrendo luz entre as frestas deixando tudo meio sépia e com um cheiro de promessa matutina, não abro mão da capa cinza.

Deito em cima da minha saudade, e flutuo pelas letras escutando uma música que você nunca toca, dentro da cabeça, uma cena que nunca existiu.

Perco meu tempo, e logo procuro meus segundos embaixo dos móveis.

Alguém bate forte na porta, sinto que machuca as mãos. Enquanto isso sinto a textura da chave e a certeza de que quero ficar sozinha não me impede da gentileza de destrancar, ando cansada de ser assim.

Alguém entra e me pergunta o que faço entre tantos papéis, diz que a febre chegou, que me atrasei para o próximo diagnóstico... Sabe, eu queria explicar, mas essa é uma daquelas verdades que só faz sentido a quem diz...

Se eu contasse... É, ouviria gritos de que existe um relógio em meu pulso, outro na parede, outro no computador, outro na tv, outro no celular... E eu continuaria nesse quarto vazio de mim e de você, procurando pelo meu tempo para guardar um pouco mais de mim para ti, quando existir um tempo cheio de nós.

Talvez a gente leia cores vivas e sinta o vento lá de fora... Talvez, por enquanto estou dormindo sem descansar, e acordando com esse medo de nunca mais te ter aqui, tendo que levar meu tempo comigo.

Então vem logo, minhas gavetas estão quase cheias, e é tudo teu.

quinta-feira, dezembro 16, 2010

Amargo.

Minha boca não mastiga mais os vidros que você solta nesses beijos. Agora o grito que ecoa na garganta é de uma solidão só tua. Não tenho mais tempo para esse tormento de desenhar minha paciência no ar com os dedos, em cada cena quando você se atrasa, quando você insiste em permanecer nessa coisa de achar que ninguém se perde do alcance do teu olho.

Então digo que você já perdeu a cor, o cheiro e o dom de me fazer ficar, todo dia, esperando mais de ti.

Toma teus planos e programas, toma teus casos e descasos, toma tuas falas ensaiadas e silêncios propositais, e engolirás tudo como água limpa. Não te corta a garganta porque aqui os únicos cacos que existiam, eram decorrentes da tua presença roubando minhas horas.

Sei, que lembrando que você já teve algo tão doce, tudo terá gosto amargo no final. Mas te contenta, devolve minhas lentes, coloca as tuas e segue meio amarga, meio quebrada, meio amada.

domingo, dezembro 05, 2010

Das oito às oito.

Entregue a terceira pessoa, a menina continua falando de si usando esses exemplos bárbaros de heróis de guerra. Às vezes sente-se mais sozinha, e é quando o som dos primeiros carros da manhã invadem a janela do oitavo andar. Suas razões para levantar de nada adiantam por esses minutos de solidão amarrarem as suas pernas entre os cobertores.
Pensa em não ser mais tão vulnerável e jogar-se dentro de si, como quem não tem medo de seus sonhos. Mas, inerte, a dúvida sobre o porquê dessa construção que faz de sua solidão, dói tanto... Tenta não pensar mais em soluções. Sabe que para levantar precisa estar certa que não vai buscar nada além das coisas que pode ter.
Por isso ela deixa de te ligar, deixa de te mostrar o que invadiu seu mundo e que não dá mais espaço para conversas otimistas. Amarra as próprias mãos num livro e seu pensamento em quaisquer palavras que não sejam as suas, porque tudo nela acaba te procurando.
A cada nova versão de acontecimentos que se repetem, mais essa vontade de viver só com o que se tem a mão parece ouro.
Quando levanta, ela repete para o vento o quanto ele a traiu, já que o amou tanto que todo susurro agora soa falso por sentir o vento que traz, esse vento que não avisou que poderia levar também.
Anda até a sala e se indaga sobre que tipo de pessoa se tornou a partir do momento em que algumas coisas mudaram de forma, ela sabe que não é uma pessoa ruim, e que o amor deveria ser uma coisa boa.
Acaba não tendo mais problemas para se locomover por essa manhã, posto que se purificou com seus sonhos pequenos, com suas vontades que não invadem ninguém, conformada com a hora que passa e não volta. Mas antes de dormir, grita que nunca teve um problema real dentro de si, que só estava tentando ser a denúncia do que estavam fazendo com ela, enquanto ninguém ouvia.
E tu, que é para quem ela não liga mais, como podes exigir a fala se não sabes, primeiramente, o que significa o silêncio?